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Impactos econômicos e produtivos da retenção de fêmeas na recria de gado leiteiro

ATIVOS CAMPO FUTURO PECUÁRIA DE LEITE

Por CNA 17 de julho 2025
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A pecuária leiteira no Brasil é caracterizada por uma ampla diversidade de sistemas de produção, que variam entre modelos intensivos e sistemas extensivos. Entre eles, as propriedades com maior nível de intensificação tendem a demonstrar um melhor aproveitamento dos recursos disponíveis, concentrando seus esforços na produção de leite como principal fonte de renda. Em contraste, propriedades menos tecnificadas frequentemente buscam diversificar suas atividades, destinando parte dos recursos à produção de animais para venda, como forma de complementar a receita proveniente do leite.

Ainda que a diversificação das fontes de receita possa representar uma estratégia válida para a propriedade, é fundamental ressaltar a importância de se mensurar o impacto da retenção desses animais sobre o desempenho da atividade leiteira, considerando que o leite permanece como o principal produto comercializado ao longo do ano.

Com o objetivo de avaliar o impacto da retenção de animais sobre o resultado financeiro de propriedades leiteiras, foram analisados três perfis de propriedades típicas em regime de manejo semi-confinados de matrizes com perfis semelhantes, sendo elas localizadas nas regiões de Guaratinguetá (SP), São Miguel do Oeste (SC) e Uberlândia (MG). As vacas nestas propriedades possuem níveis distintos de captação diária, com médias individuais de 10, 14 e 18 litros de leite, respectivamente. Os dados dessas propriedades modais foram obtidos por meio de levantamentos realizados pelo Projeto Campo Futuro, uma iniciativa do sistema CNA/Senar em parceria com o Cepea.

A análise foi conduzida tendo como premissa a manutenção da taxa de descarte de matrizes já existentes em cada propriedade. Em posse do efetivo de fêmeas necessárias para a reposição, este número foi descontado do número total de novilhas aptas para reposição produzidas pelas propriedades selecionadas. O resultado desta subtração compõe o excedente de novilhas de cada sistema, que pode ou permanecer no sistema e ser comercializado em uma idade mais avançada, ou então comercializado de forma precoce e. Este efetivo remanescente de novilhas foi então utilizado como base para uma simulação considerando diferentes níveis de retenção desses animais excedentes (sendo de 20%, 40%, 60%, 80% e 100%).

Para fins comparativos, foi calculado o peso das novilhas adicionais como equivalente de vacas em lactação, calculada em cima da estimativa de consumo de matéria seca (MS) de 2,0% do peso vivo (PV) para animais em recria e 2,5% do PV para vacas em lactação em regime de semiconfinamento.

Dessa forma, foi possível comparar o impacto da manutenção de fêmeas excedentes, em relação à substituição por vacas em lactação, analisando as alterações de receita e margem nesses sistemas. Foi comparada a receita gerada com a comercialização das fêmeas excedentes, caso fossem recriadas e comercializadas aos 30 meses de idade, utilizando como referência os valores médios de comercialização reportados durante os levantamentos, atualizados para valores de 2025. Já para a segunda situação, estimou- -se o leite produzido no ano, a partir do equivalente em vacas possível de ser mantido, de acordo com o número de fêmeas excedente retidas. A receita do leite foi calculada a partir do preço do leite pago ao produtor, atualizado para 2025.

Ao analisar os resultados desta simulação, observou-se que a propriedade de Guaratinguetá/ SP apresentou uma receita com a venda do leite inferior àquela que poderia ser obtida por meio da venda das novilhas excedentes. Em contrapartida, as propriedades das regiões de São Miguel do Oeste/ SC e Uberlândia/MG demonstraram um aumento na receita anual potencial ao priorizar a manutenção das vacas em lactação, evidenciando maior retorno financeiro via a produção de leite em detrimento da venda de animais (Gráfico 1).

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Gráfico 1: Diferença entre os resultados das simulações de receita obtida com a venda de leite e venda de novilhas, considerando uma taxa de retenção de 100% do excedente.
Fonte: Projeto Campo Futuro – Sistema CNA/Senar.
Elaboração: Cepea-Esalq/USP, Sistema CNA/Senar.

O resultado da propriedade de Guaratinguetá/SP está associado ao menor nível de captação individual observado, com média de 10 litros por vaca dia. Essa limitação na produtividade torna a comercialização de novilhas de maior valor agregado uma estratégia economicamente interessante nesse contexto. Por outro lado, ao analisar as propriedades típicas de São Miguel do Oeste/SC e Uberlândia/MG, que apresentam maiores níveis de captação diária por vaca, demonstram que incrementos na produtividade proporcionam um aumento significativo na receita anual, tornando a venda de leite uma alternativa mais atrativa em comparação à comercialização de animais.

Apesar do potencial avanço de receita observado nos diferentes sistemas simulados, o equilíbrio com os custos de produção garante melhores margens. Para a realização dessa análise, foram considerados os principais componentes de custo de produção nas propriedades avaliadas, incluindo nutrição (pastagem, silagem, capineira, suplementação mineral e ração), sanidade e mão de obra. Com base nesses dados, foi possível estimar as margens brutas (MB) associadas aos diferentes cenários simulados, comparando a alocação de recursos para a recria até a comercialização de novilhas aos 2,5 anos de idade, e a manutenção de vacas em lactação (Gráfico 2).

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Gráfico 2: Diferença entre os resultados das simulações de margem bruta obtida com a venda de leite e a venda de novilhas, considerando uma taxa de retenção de 100% do excedente.
Fonte: Projeto Campo Futuro – Sistema CNA/Senar.
Elaboração: Cepea-Esalq/USP, Sistema CNA/Senar.

As propriedades de São Miguel do Oeste/SC e Uberlândia/MG demonstraram que, ao optar pela recria de fêmeas para comercialização, o produtor estaria abrindo mão de uma margem superior que poderia ser alcançada, caso os recursos forrageiros utilizados nessa recria de fêmea estivessem sendo destinados para a manutenção do equivalente em vacas em lactação. Com base nas simulações realizadas observou-se que, à medida que há um aumento na retenção de fêmeas para recria utilizando os recursos disponíveis, a margem que poderia ser alcançada com a produção de leite tende a apresentar um crescimento gradativo em sistemas com maior produtividade individual de leite (Tabela 1). Esse comportamento sugere que a alocação de recursos forrageiros deve priorizar a manutenção de animais que efetivamente irão compor o plantel produtivo do sistema, podendo resultar em maior retorno econômico e auxiliar na viabilização de maiores índices de captação da propriedade como um todo, especialmente quando há melhoria dos índices produtivos da propriedade.

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Tabela 1: Comparativo da MB entre as simulações de Produção de Leite e Venda de Animais, para as propriedades típicas amostradas.
Fonte: Projeto Campo Futuro – Sistema CNA/Senar.
Elaboração: Cepea-Esalq/USP, Sistema CNA/Senar.

Observa-se que produtores que operam sistemas de produção mais extensivos tendem a adotar estratégias com menores custos operacionais, e encontram na retenção de fêmeas uma alternativa para incrementar sua remuneração quando comparam as mesmas com o custo de manutenção de uma fêmea lactante. Entretanto, quando avaliamos as margens e receitas de propriedades que contam com a manutenção de novilhas excedentes, verifica-se que tais sistemas apresentam menor rentabilidade do que propriedades que concentram seus recursos nos animais em produção.

É válido destacar que a propriedade que apresentou uma simulação negativa para a produção de leite (Guaratinguetá/SP) passou a ter margem mais favorável para a atividade ao considerar um incremento de 3 litros por vaca/dia. Esse resultado reforça a importância do aumento da produtividade como fator determinante para a viabilidade econômica da produção de leite frente à recria para comercialização.

Muitas propriedades demonstram certa resistência em ampliar o número de animais em produção, com a justificativa de não contar com recursos suficientes para manter esses animais. No entanto, essa limitação está frequentemente atrelada à manutenção de uma recria “inchada”, cujo consumo de recursos ao longo do ano tende a passar despercebido aos olhos do produtor. Os resultados do estudo indicam que, em algumas situações, essa escolha pode estar inibindo a capacidade da propriedade em incrementar o volume de leite captado.

Independentemente do nível tecnológico adotado na propriedade, a gestão eficiente dos recursos disponíveis é um fator determinante para o sucesso da atividade leiteira. A elaboração de um planejamento anual contribui para um manejo mais adequado e eficiente das áreas de pastagem, permitindo estimar, com base nos históricos de produtividade da propriedade, a quantidade de volumoso disponível a partir da produção de silagem e capineira. Essa estruturação possibilita ao produtor dimensionar, de forma mais precisa, o número de animais em produção que poderá manter ao longo do ano, possibilitando um aumento da produtividade de maneira mais segura e sustentável.

Por fim, é fundamental que cada produtor invista em capacitação e busque o apoio de uma assistência técnica qualificada, a fim de realizar ajustes precisos e adequados à realidade de cada propriedade. Dessa forma, torna-se possível promover a melhoria contínua dos indicadores produtivos e econômicos, contribuindo para a sustentabilidade e a longevidade da atividade leiteira em cada região.


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