CNA debate reativação da hidrovia do São Francisco, privatização das Companhias Docas e soluções de armazenagem
Temas foram abordados na reunião da Comissão Nacional de Logística e Infraestrutura, na terça (30)
Brasília (30/09/2025) - A Comissão Nacional de Logística e Infraestrutura da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) se reuniu, na terça (30), para discutir a reativação da hidrovia do Rio São Francisco, a proposta de privatização das Companhias Docas e alternativas de armazenagem a partir do sistema Ceagesp.
Hidrovia do Rio São Francisco - Na abertura, o presidente da comissão, Mário Borba, destacou a relevância histórica e estratégica do Rio São Francisco. “O rio foi essencial para o desenvolvimento da civilização e será determinante para o futuro do país e da região Nordeste”, afirmou.
O diretor-presidente da Companhia das Docas do Estado da Bahia (Codeba), Antônio Gobbo, apresentou o plano de reativação da hidrovia, ressaltando que a empresa já iniciou estudos técnicos após autorização do Ministério de Portos e Aeroportos. A delegação de competências para a Codeba ainda aguarda definição.
Atualmente, a hidrovia possui 1.371 quilômetros de extensão e abrange 505 municípios em Alagoas, Bahia, Minas Gerais, Pernambuco e Sergipe. O trecho navegável vai de Petrolina (PE) a Pirapora (MG). Um dos desafios apontados por Gobbo é a necessidade de dragagem do leito.
O plano para reativação da hidrovia prevê três etapas: reativação do trecho Juazeiro/Petrolina a Ibotirama, atendendo cargas como gesso agrícola, calcário, milho, soja, adubos e insumos; expansão de 172 km até Bom Jesus da Lapa/Cariacá, contemplando novas demandas; e mais 677 km até Pirapora, permitindo a integração com a Ferrovia de Integração Oeste-Leste (Fiol).
Um levantamento preliminar da Codeba indica potencial de movimentação de 5 milhões de toneladas por ano, inicialmente.
“Com isso ressuscitamos o complexo modal em 2026. Nossa expectativa é que em dezembro do ano que vem consigamos ir para a B3 colocar a hidrovia em leilão”, afirmou Gobbo. Ele acrescentou que a navegação transversal continuará sob responsabilidade do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
Para Elisangela Pereira Lopes, assessora técnica da comissão, o projeto é essencial para o setor produtivo. “Antes se pensava no Rio São Francisco apenas para turismo. Hoje observamos que o rio é vital para o transporte de cargas, principalmente para o agro, trazendo benefícios diretos ao produtor rural.”
Privatização das Companhias Docas - A discussão sobre a privatização foi apresentada por Paulo Villa, da Associação de Usuários dos Portos da Bahia (Usuport). Ele detalhou a proposta da Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq) para adotar o modelo Landlord Port, que divide responsabilidades entre Estado e setor privado.
Segundo Villa, a intenção é atrair investimentos, aumentar a eficiência e reduzir custos para o governo. No entanto, ele alertou para riscos: “Esse modelo tem tendência a gerar aumento de tarifas e ineficiências operacionais”.
A Usuport já enviou contribuições à Antaq para aprimorar o atual modelo de gestão. Villa ressaltou que os usuários demandam infraestrutura e serviços adequados, maior competição, tarifa única e participação na governança. A agência deve reavaliar a proposta e apresentar uma nova versão em até 90 dias.
Soluções de armazenagem: o papel da Ceagesp - A reunião tratou ainda das alternativas de armazenagem no Brasil. Elisangela trouxe dados que revelam que o país tem capacidade para armazenar apenas 63,3% da produção agrícola. Em Mato Grosso, a taxa cai para 49,9%, e na região do Matopiba, para 46,4%.
Na sequência, João Cláudio Lima, da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), apresentou a infraestrutura da estatal, que conta com 12 unidades ativas próximas a polos produtivos e capacidade estática de 675,6 mil toneladas.
A Ceagesp aluga espaços por tonelada armazenada e oferece benefícios como emissão de títulos para financiamento, seguro das mercadorias, garantia de entrega, preservação da qualidade e devolução de sobra técnica. Também aplica boas práticas de armazenagem para reduzir desperdícios, com foco no combate à insegurança alimentar.
Hoje a companhia recebe produtos de estados como Goiás e Paraná. Para ampliar a eficiência logística, desenvolve estudos com a Esalq-Log. Produtores têm descontos de 25%, enquanto agricultores familiares recebem 30%.
Elisangela destacou que a Ceagesp é uma boa alternativa diante da falta de infraestrutura de armazenagem no país, além de oferecer vantagens econômicas a quem busca escoar a produção em outras regiões.
A assessora finalizou a reunião falando sobre o lançamento do estudo "Panorama das Estradas Vicinais no Brasil", que será realizado no dia 08 de outubro, de forma presencial, na sede da CNA, em Brasília. Para mais informações, acesse: https://www.cnabrasil.org.br/eventos/lancamento-do-estudo-panorama-das-estradas-vicinais-no-brasil
O presidente da comissão reforçou a relevância do tema. “Precisamos avançar nessa questão que é tão importante para o país”, concluiu Borba.