Notícias
Visitas a campo encerram curso de recomposição da vegetação no Cerrado
Brasília (01/09/2016) - Os participantes do curso “Recomposição da Vegetação no Cerrado”, realizado de 24 a 26 de agosto na Embrapa Cerrados (Planaltina, DF), realizaram, na última sexta-feira (26), visita a campo em diferentes locais do Distrito Federal, incluindo o centro de pesquisa e duas propriedades rurais.
Pela manhã, eles conheceram o viveiro da Embrapa Cerrados, apresentado pelo pesquisador Tadeu Graciolli, que falou sobre a gestão, o funcionamento e as melhorias a serem feitas nas instalações e no manejo da irrigação, além do preparo das mudas. “A muda tratada aqui dentro tem um valor agregado que é a tecnologia da espécie que ela representa e também da tecnologia de produção da muda”, explicou.
Em seguida, os participantes do curso foram ao Núcleo Rural Tabatinga (DF), onde conheceram a produção de mudas de cerca de 80 espécies de árvores para recomposição de Cerrado, uma área com plantio de clones de teca e uma Área de Preservação Permanente (APP) na Fazenda Savana, apresentadas pelo engenheiro florestal Sérgio Gonçalves, proprietário da fazenda.
Ele destacou a experiência local com projetos de plantio e manutenção de áreas do DF executados desde 1999 (com o plantio de cerca de 100 mil árvores). Gonçalves falou também sobre a automatização de alguns processos no viveiro, considerando o conceito de indústria de floresta, e as oportunidades de atendimento de órgãos públicos e privados e produtores rurais quanto a passivos ambientais, principalmente com o objetivo de atender às exigências da legislação de proteção da vegetação nativa.
“Com o novo Código Florestal, abre-se um caminho para a restauração não só de APPs, mas também de Reserva Legal (RL), visando o retorno financeiro com a exploração dessas áreas” disse, acrescentando o potencial de inclusão social da atividade: “Há uma cadeia de trabalho muito longa, com uma gama de possibilidades para que as pessoas fiquem no campo, recebam remuneração adequada e tenham melhor qualidade de vida”.
À tarde, o grupo seguiu para a Fazenda Entre Rios, na região do PAD-DF, que abriga a área demonstrativa do Projeto Biomas, iniciativa da Embrapa e da CNA com o objetivo de apresentar aos produtores rurais modelos de uso da árvore com fins econômicos e ambientais. A coordenadora-executiva do projeto pela CNA, Cláudia Rabello, falou sobre a iniciativa e a fase atual dos trabalhos. “Estamos num momento de repensar as formas de plantio e a introdução de novas espécies, pois não basta introduzir espécies arbóreas para recuperar áreas. Temos também que entender e atender à legislação ambiental e ainda buscar meios mais efetivos de fazer que o resultado chegue ao produtor rural”, afirmou.
Duas estações técnicas foram apresentadas por pesquisadores da Embrapa Cerrados. Karina Pulrolnik e Kleberson de Souza abordaram os sistemas de Integração Lavoura-Pecuária-Floresta (ILPF) como alternativa para trazer árvores para o Bioma Cerrado com a intensificação sustentável da produção agropecuária. Eles apontaram as vantagens da adoção da tecnologia, como a possibilidade de recuperação do solo de parte dos 52 milhões de hectares de pastagens degradadas no Brasil, a otimização do uso da terra e a produção de biomassa para o sistema plantio direto.
Eles também destacaram a importância do componente florestal no sistema, que permite aumento da biodiversidade, da matéria orgânica do solo e do conforto animal, diminuição da pressão por florestas naturais, diversificação da renda dos produtores e a mitigação dos gases de efeito estufa (GEE), entre outros. Além de formas de plantio, distribuição e manejo das árvores, foram apontadas as características desejáveis da espécie arbórea a ser implantada no sistema, como arquitetura de copa favorável, facilidade de estabelecimento e tolerância a insetos e doenças.
Foram apresentados ainda resultados de alguns estudos, como o estoque de carbono acumulado em floresta de seis anos plantada com eucalipto – acúmulo de 71,13 toneladas/ha de carbono nas plantas e de 123 toneladas/ha a 152 toneladas/ha no solo, em camada de 0 cm a 100 cm. Também mostraram dados sobre a vitrine de ILPF da Embrapa Cerrados, destacando os ganhos de produtividade nas fases silviagrícola (2009-2012) e silvipastoril (2012-atual) dos experimentos, o manejo das árvores e o efeito da desrama sobre a produtividade dos grãos e o estoque de carbono no fuste (o potencial de neutralização da emissão de GEE de bovinos* variou o equivalente entre 27 UA/ha e 43 UA/ha, dependendo da espécie e do arranjo das árvores de eucalipto) e dados preliminares no solo.
“Acreditamos que a ILPF deve ser um sistema cujo componente florestal tenha alto valor agregado. Ela pode ser usada como parte da área de Reserva Legal, já que o Novo Código Florestal permite a utilização permanente de espécies exóticas em até 50% da área a ser recomposta”, explicaram.
A visita foi concluída com a apresentação de José Felipe Ribeiro, que falou das principais atividades do projeto Biomas na fazenda, destacando as diferentes formas de plantio, como semeadura direta e plantios de mudas como estratégias para recuperação de áreas de Cerrado.
Coordenador do Projeto Biomas no Cerrado, o pesquisador mostrou os experimentos desenvolvidos no âmbito do projeto com espécies nativas e exóticas de fruteiras e madeireiras. “O Cerrado tem grande oferta ambiental de espécies e de ambientes e a nossa prioridade (no projeto) eram plantios que envolvessem nativas, como o baru, pequi, mangaba, jatobá, e que também pudéssemos estudar estratégias mais baratas de plantio, como a semeadura direta manual ou mesmo mecânica”, explicou.
Sobre o curso
Com participação de técnicos de instituições públicas e privadas do Distrito Federal e região, o curso “Recomposição da Vegetação no Cerrado” foi promovido pela Embrapa e pela Emater-DF, com apoio do Projeto Biomas, da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), do Ministério do Meio Ambiente, da Rede de Fomento ILPF e da Deutsche Gesellschaft für Internationale Zusammenarbeit (GIZ).
O evento teve a coordenação dos analistas João Luís Dalla Corte e Marco Antônio Borba, do Setor de Prospecção e Avaliação de Tecnologias da área de Transferência de Tecnologia da Embrapa Cerrados.
Nos dias 24 e 25, os participantes assistiram a palestras sobre tecnologias e processos sobre a legislação ambiental, caracterização do Cerrado, produção de mudas, a ferramenta virtual Webambiente e estratégias para recuperação de áreas degradadas. A ideia foi capacitar os profissionais envolvidos para atuar com eficiência na adequação da paisagem rural ao Novo Código Florestal Brasileiro.
*Potencial de neutralização da emissão de GEE de um bovino com 1 Unidade Animal (UA) ou 450kg de peso vivo, que corresponde, em média, a 1,5 tonelada/ha/ano de CO2 equivalente.
Projeto Biomas
O Projeto Biomas, iniciado em 2010, é fruto de uma parceria entre a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), com a participação de mais de quatrocentos pesquisadores e professores de diferentes instituições, em um prazo de nove anos.
Os estudos estão sendo desenvolvidos nos 6 biomas brasileiros para viabilizar soluções com árvores para a proteção, recuperação e o uso sustentável de propriedades rurais nos diferentes biomas.
O Projeto Biomas tem o apoio do SENAR, SEBRAE, Monsanto, John Deere e BNDES. No Cerrado, o Projeto Biomas é coordenado pela Embrapa Cerrados, com apoio da Embrapa Florestas, Emater/GO, Instituto Federal Goiano, Universidade de Brasília - UNB e Universidade Federal de Goiás - UFG.
CNA/EMBRAPA
Breno Lobato – MTb 9417-MG
Jornalista da Embrapa
Cerrados
cerrados.imprensa@embrapa.br
Contato Embrapa: (61) 3388-9945
Contato CNA: (61) 2109-1382