Paraná
Notícias
Dia do Agricultor: saudações a quem preserva
Produtor rural investe e trabalha para manutenção do meio ambiente. No Paraná, área preservada nas propriedades rurais é maior do que exige a legislação
Por: Comunicação Social – Sistema FAEP/SENAR-PR
No dia 28 de julho, quando se comemora o Dia do Agricultor, é importante parabenizar essa categoria profissional, que, ao lado dos pecuaristas, são os responsáveis pela preservação do meio ambiente. Afinal, é o produtor rural que arca com a conservação dos recursos naturais dentro da propriedade, a um custo estimado em R$ 20 bilhões anuais apenas com a manutenção das Áreas de Proteção Permanente (APP) e da Reserva Legal. Se fossem computados os custos para aquisição destas áreas (que não são utilizadas com fins comerciais) a conta passaria dos R$ 2,4 trilhões, segundo estudo da Embrapa Territorial. De acordo com o supervisor do grupo de gestão territorial estratégica da entidade, Gustavo Spadotti Amaral Castro, estes custos anuais referem-se a gastos com cercas, aceiros e até vigilância. “Se alguém derrubar a mata, atear fogo ou caçar dentro dessas áreas o produtor será responsabilizado”, afirma.
De acordo com a legislação atual, imóvel inferior a quatro módulos fiscais (cerca de 60 hectares) e localizado no Paraná é preciso manter 20% da área da propriedade com vegetação nativa a título de Reserva Legal, além das APPs, que incluem áreas de topo de morro, em torno de corpos hídricos (como rios, nascentes e barragens) e em encostas.
Segundo Castro, em 2020 a área preservada pelos produtores paranaenses apenas dentro das propriedades rurais somava 4,6 milhões de hectares, 29% da área dos imóveis rurais do Estado, percentual acima do exigido pela legislação vigente. “Isso dá 23% do Paraná inteiro preservado pelos produtores. De forma inequívoca, você pode dizer que nenhuma classe profissional preserva tanto quanto o produtor rural”, observa.
Por um lado, essa condição de “guardião do meio ambiente” acaba colocando o produtor rural em uma condição desigual de competição. “Nossos principais concorrentes na soja, como a Argentina e os Estados Unidos, não têm essa restrição ambiental nas propriedades. Eles utilizam 100% da área”, compara Castro. “Se cultivássemos milho na área destinada à Reserva Legal apenas nos três Estados da região Sul, teríamos uma receita adicional de R$ 13 bilhões anuais e seriam gerados 192 mil empregos”, complementa, mencionando um cálculo desse custo de oportunidade feito pela Embrapa Territorial.
Conhecer estes números é importante, não para questionar a atual legislação ambiental, mas para saber que existe um esforço bilionário por parte da classe produtora para preservar o meio ambiente. “O produtor cumpre esse compromisso. Mas precisamos saber que existe um ônus que ele arca sozinho, com benefícios para toda sociedade”, observa Castro.
Bons exemplos
Esses benefícios incluem maior biodiversidade, solos mais ricos, disponibilidade de água, além de questões climáticas que repercutem em melhores resultados nas lavouras, canteiros e pastagens. Um exemplo desse entendimento vem do município de Grandes Rios, localizado no Vale do Ivaí, onde o produtor Wangler Freire tem encontrando bons resultados com o manejo sustentável empregado nas lavouras de café e nas estufas de tomate e morango.
Com 35% da área da sua propriedade preservada (15% a mais do que o exigido por lei), Freire conta que, no passado, diziam que era loucura apostar no caminho da sustentabilidade para produzir. Hoje tem certeza que realizou a aposta certa. “Onde eu tenho mais mata tem as nascentes. Agora está todo mundo se batendo atrás de água, furando poço artesiano e eu tenho a minha água garantida”, conta, referindo-se à estiagem histórica que vem castigando o Paraná nos últimos dois anos.
No café, sua atividade principal, Freire só utiliza os agroquímicos quando necessário. “Só em último caso a gente aplica, sempre respeitando o prazo a carência. Mas ultimamente tenho trabalhando mais com produtos biológicos”, afirma. Outra técnica adotada nos seus cafezais é o consórcio com brachiaria, plantada entre os pés de café. “Já faço esse manejo há sete anos e vejo muitos benefícios. Se dá um dia seco, minha terra continua úmida. Não precisa repor calcário, matéria orgânica e a erosão é zero. Também ajuda no controle de insetos e plantas daninhas”, observa.
Essas escolhas não surgiram da noite para o dia. Freire começou adotando esse manejo em apenas um hectare do talhão e foi expandindo a área conforme os resultados apareciam. “No começo eu passava veneno no mato e deixava a terra limpa. Aí dava uma chuva e a água levava tudo, dava erosão. Agora acabou esse problema”, afirma. Hoje ele aplica esse sistema de manejo nos 15 hectares dedicados ao café, com resultados concretos. No início de julho, quando uma geada castigou parte dos cafezais paranaenses, as plantas de Freire resistiram bem ao frio. “Como [o café] estava bem nutrido, forte, só deu uma ‘sapecadinha’. Na vizinhança, aqueles que estavam desequilibrados de potássio e fósforo, queimaram”, ressalta. A produtividade é outro atrativo desse sistema. “Conseguimos fazer 37 sacas de café beneficiado por hectare. Na região, essa média está em 19 sacas”, compara.
O bom manejo da propriedade não é exclusividade de uma região ou atividade produtiva. Mesmo em grandes culturas, como grãos e pecuária de corte, existem exemplos de profissionais que optaram por um caminho sustentável, encontrando bons resultados com a decisão.
Há mais de 10 anos, o produtor de grãos Frederico Stellato Farias, de Campo Mourão, na região Noroeste, realiza rotação de culturas nas suas lavouras e um sistema de adubação verde que utiliza um mix de plantas nos intervalos entre as culturas comerciais. “Uma propriedade ambientalmente correta não é aquela que só tem mata ciliar, reserva legal. A diversidade e a sustentabilidade têm que estar na propriedade toda”, preconiza.
As vantagens alcançadas com esse sistema são diversas. “Tenho percebido economia e eficiência na adubação devido à reciclagem de nutrientes. Essas plantas do mix conseguem explorar bem o solo. Trazem os nutrientes para superfície de forma que minhas culturas de interesse econômico conseguem aproveitar. Outra vantagem é a redução da erosão. O solo coberto o ano todo com palhada não tem o impacto da gota de chuva. E, como o solo está sempre coberto, também ocorre uma diminuição de plantas daninhas”, observa Farias.
A diversificação de espécies na lavoura também aumenta a chance de sobrevivência dos inimigos naturais das pragas, como outras espécies de insetos e fungos. Esse resultado vai ao encontro de outra técnica sustentável utilizada pelo produtor de Campo Mourão desde 2007: o Manejo Integrado de Pragas (MIP).
Essa técnica parte do pressuposto que os inimigos naturais das pragas que trazem dano econômico estão presentes na própria lavoura. Dessa forma, o uso racional de inseticidas é fundamental para que o produtor não elimine os organismos que trazem benefícios à produção. Farias aplica o MIP em toda área de 400 hectares ocupada por grãos. Dois funcionários já fizeram o curso “Inspetor de campo em MIP: Soja”, do SENAR-PR.
De acordo com o professor do departamento de Ciências Florestais da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Alessandro Camargo Ângelo, quando várias propriedades próximas cumprem as regras ambientais existe um efeito somatório, que traz mais benefícios que a soma individual de cada iniciativa. “Quando você tem várias propriedades cumprindo [a legislação ambiental] existe um efeito potencial mais expressivo. Por exemplo, um rio que passa por uma região que produz grãos, quando vários produtores da região fazem a manutenção da mata ciliar, existe um corredor entre as propriedades rurais que tem uma importância maior para a biodiversidade local”, avalia.
Efeito multiplicador
Outro entusiasta do MIP em Campo Mourão é o produtor Gabriel Rogério Jort, que aplica a técnica de manejo há mais de 30 anos. “Utilizo [o MIP] na soja, no milho e no trigo. A gente nunca abandonou isso aí”, confidencia.
Dentre as vantagens observadas pelo produtor está a economia financeira. “Nem que não aumente a produtividade, você deixa de gastar em produto e não carrega o meio ambiente”, avalia.
Jort também aposta na rotação de culturas para não empobrecer o solo. “É tudo integrado. Além de soja, milho e trigo, incorporo a brachiaria no sistema. E no ano que vem vou apostar no mix de variedades”, afirma.
Em relação à Reserva Legal, Jort destina mais do que o dobro exigido pela lei. “Teria que ter 53 hectares, mas temos 113”, aponta, mantendo na propriedade nascentes e a disponibilidade de água. “Enquanto as outras lavouras da vizinhança já estão derretendo com a estiagem, a nossa está dando risada”, compara.
Também na pecuária, as boas práticas caminham lado a lado com a preservação. O produtor Mário Zafanelli, de Alto Paraíso, na região Noroeste, instalou recentemente um sistema com painéis fotovoltaicos para aproveitar a energia solar na propriedade. “Produzindo sua própria energia, você está contribuindo”, afirma. No seu caso, a opção energética se deu também pela economia e pela segurança. “Tem muita instabilidade energética no campo”, avalia.
Com cerca de 1,7 mil cabeças de gado de corte, Zafanelli utiliza o sistema Integração Lavoura Pecuária (ILP), que viabiliza cultivo de pastagens e de grãos na mesma área trazendo benefícios para ambos. “Nossa missão é produzir carne de qualidade com menos impacto no meio ambiente. Faço algumas áreas de pastagem com adubo orgânico e vou fazer com a soja também. Estamos olhando para o futuro”, diz.
Para celebrar o Dia do Agricultor, o Sistema FAEP/SENAR-PR lançou a campanha "Quem produz, preserva", que aborda técnica de manejo por meio das quais a produtor rural torna a agricultura mais sustentável. As peças foram postadas nas redes sociais do Sistema FAEP/SENAR-PR e enviadas a produtores cadastrados nas listas de transmissão da entidade.