ALIMEN T AN D O O B R A SILEIRO

Goiás

Café: grão consolidado no mercado

2 de outubro 2020

Por: Comunicação Sistema Faeg/Senar

Crescimento no consumo de café em todo o mundo faz aumentar as exportações do produto brasileiro, principalmente do tipo arábica. Em Goiás, atividade tem estimulado a abertura de negócios como cafeterias



As medidas adotadas para evitar a contaminação pelo novo coronavírus (Covid-19) foram, de certa forma, positivas para a cafeicultura. Segundo pesquisa da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), houve aumento no consumo mundial do café nos últimos três meses, refletindo no crescimento das exportações brasileiras no primeiro semestre de 2020. Em julho deste ano, o País exportou três milhões de sacas de café, considerando a soma de café verde, solúvel e torrado & moído. O volume representa o segundo recorde histórico de exportações nacionais de café para um mês de julho já registrado, apesar do atual cenário de pandemia. A receita cambial gerada pelos embarques foi de US$ 356,8 milhões, equivalente a R$ 1,9 bilhão, o que representa um aumento de 22,3% em reais em relação a julho de 2019. Já o preço médio da saca de café foi de US$ 117,4. Os dados são do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé).

Em relação às tipos embarcadas no mês, o café arábica correspondeu a 74,4% do volume total das exportações, equivalente a 2,3 milhões de sacas. O café conilon (robusta) atingiu a participação de 14,7%, com o embarque de 446,4 mil sacas, enquanto o solúvel representou 10,9% das exportações, com 331,8 mil sacas exportadas. “Os volumes de exportação registrados em julho mostram que iniciamos bem o ano cafeeiro, com uma boa entrada do café brasileiro no mercado e bons resultados em reais. Apesar do cenário de crise gerado pela pandemia, os resultados indicam que o agronegócio café irá se consolidar nos próximos meses com qualidade e sustentabilidade e, principalmente, tomando os cuidados necessários em relação aos protocolos privados, desde a colheita, passando pelos armazéns, transporte e chegando com segurança ao consumidor”, declara Nelson Carvalhaes, presidente do Cecafé.

Nesse contexto, a produção goiana, apesar de tímida se comparada à produção nacional, tem qualidade suficiente para brilhar entre os cafés especiais mais consumidos pelo mercado norte-americano e europeu. Dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), sobre a safra 2020, apontam aumento da produção goiana, mesmo com a menor destinação de área em comparação à temporada passada. Os efeitos da bienalidade positiva, influenciando a produtividade da cultura, bem como os maiores investimentos realizados pelos produtores, estimularam o aumento no preço do café pago aos cafeicultores e aqueceram a exportação que registrou crescimento de 529,3% em relação a julho de 2019, com US$ 4,2 milhões exportados.

Sem muita tradição para a cultura do café, os maiores investimentos são de produtores de outros estados que se instalaram em Goiás, em regiões com altitude acima de 800 metros, temperatura amena e chuvas regulares, como Catalão, Cristalina, Campo Alegre de Goiás, Cabeceiras, São João da Aliança e Quirinópolis. De acordo com dados da Radiografia do Agro em Goiás, publicação da Secretaria de Estado de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Seapa), em Goiás são 109 propriedades, espalhadas por 23 municípios, que se dedicam à produção do café Arábica - que possuem características de cafés mais finos e requintados, considerados cafés especiais.

Natural do Paraná, Luiz Figueiredo dedica-se a lavoura de café na região de Cristalina e comemora os bons resultados no campo. “Começamos com dois pivôs e hoje temos tecnologia para irrigar mil hectares de plantação. Toda produção goiana é irrigada, o que garante a qualidade do grão, muito valorizado no mercado externo. Eu exporto principalmente para Itália e Espanha”, informa Luiz.

Outra propriedade em Cristalina, que também exporta para a Itália, é a Nossa Senhora de Fátima, da família Zancanaro. Quem está por trás dessa história é Cristiane Zancanaro, uma das filhas de Gelci Zancanaro, que veio do Sul do país em busca de melhores oportunidades de estudos para os filhos. “Lançamos um projeto de plantio do café arábica, em 11 hectares, no ano de 2009 por meio do sistema de irrigação por gotejamento. Deu muito certo e hoje a distribuição de café ocupa mais de mil hectares, em área irrigada por dez pivôs. Nosso produto tem o reconhecimento da marca Illy Café. Nossa produção é bianual e essa safra foi maior que a passada, sendo mais de 90% direcionados ao mercado externo”, destaca Cristiane.

No lado da Indústria – mesmo diante um cenário econômico incerto- o saldo também é positivo e a atividade segue em franco crescimento. A demanda mantém aquecida, tanto internamente quanto nas exportações, além da popularização do café em cápsulas que tem gerado novas oportunidades de negócio. Conforme explica o consultor e corretor de café, Adailton Lisboa, o fruto – principalmente o goiano- tem conseguido enfrentar a crise em diversas áreas, desde a exportação do grão cru, até mesmo na indústria de torrefação. “Acabamos de finalizar a safra e a nossa expectativa, quanto à qualidade da nossa produção, são as melhores, além do aumento do consumo interno e externo”, diz.

Desafios de produção em Goiás


O mercado em expansão abre possibilidades para o aumento de produção em Goiás, porém o Consórcio de Pesquisa do Café, ligado a Embrapa Café, aponta desafios a serem superados como a tradição do Estado em produção de grãos e pecuária de corte e leite, que apresentam retornos mais rápidos; a adequação dos solos com altos investimentos em irrigação e em pesquisas relacionadas a custos e competitividade da cafeicultura nas áreas apropriadas para lavouras de café.

Além disso, como ocorre com a cafeicultura em todo o Brasil, não se pode esquecer a volatilidade do mercado cafeeiro, que é muito intensa. Nesse sentido, considerando que, em Goiás, precisa-se realizar investimento vultoso no café, esse risco sempre será recorrente, pois os cafeicultores não terão uma segurança de retorno financeiro frente aos altos custos que empregaram. Economistas alertam que é preciso manter a atenção quanto ao quadro dos fundamentos, para não elevar a produção se não houver demanda que garanta preço atrativo.

ICMS

Um dos entraves que prejudica a produção goiana é a cobrança do Imposto Sobre Circulação de Serviços e Mercadorias (ICMS). Na prática, cada produtor paga o imposto em cima da produção exportada – que no café a cobrança se dá por saca comercializada. Segundo a Secretaria de Economia do Estado, nas vendas destinadas às “tradings” localizadas em outros estados, os produtores devem recolher o imposto, mesmo nas operações com fins de exportação, o que contraria a regra federal de isenção para produtos agropecuários destinados ao mercado externo.

Para o assessor técnico do Instituto para o Fortalecimento da Agropecuária de Goiás (Ifag), Pedro Arantes, a cobrança é indevida e um dos agravantes é a ausência de empresas exportadoras instaladas em Goiás. “Como nossa produção é relativamente pequena, as empresas que fazem a compra do café em grão para exportação não tem interesse em se instalar aqui por enquanto”, diz.

A boa notícia é que, com o apoio da Faeg, desde setembro de 2019, os produtores que exportam café podem celebrar um termo de acordo de regime especial com a Secretaria da Economia do Estado de Goiás e ficar isento do ICMS para casos de exportação. A Fazenda Figueiredo, em Cristalina, já aderiu ao benefício e o gerente administrativo, Edson Ribeiro da Silva, explica que a iniciativa é individual. “Cada produtor de café para exportação tem que procurar a Secretaria de Economia e propor o acordo, apresentando os documentos necessários, pois sem o termo, a propriedade fica submetida ao imposto. A articulação da Faeg promoveu uma grande conquista para o setor”, comemora.

No gosto dos goianos

A paixão do brasileiro por café é cultural. Dados de uma pesquisa realizada pela Abic revela que o Brasil é o segundo maior consumidor de café do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. Para a Associação, a tendência é de que o consumo cresça 30,5% até 2021. Se o consumo cresce, o comércio comemora. Somente em Goiânia, existem 50 estabelecimentos com registro ativo na Junta Comercial de Goiás (Juceg) como específico em café especial.

Romero Fonseca e Eleusa Moreira são casados, formados em jornalismo e apaixonados por café. Exerceram a profissão na área de comunicação por mais de 25 anos e emendaram mais sete anos no mercado imobiliário. Há três anos, fizeram uma reviravolta profissional e junto de um casal de amigos transformaram um sonho antigo, em realidade. Após estudo e pesquisas, os quatro tornaram-se sócios e investiram no Ópera Café, cafeteria estilo bistrô localizado na capital goiana.

O mundo das letras cedeu lugar para que Romero e Eleusa pudessem viver do aroma do café. “Alicerçamos-nos em estudos de mercado e até viagens para conhecer outras cafeterias. A intenção era entender essa ‘coisa’ de tanta cafeteria no Brasil e várias surgindo em Goiânia. Buscamos informações sobre funcionamento, escolha do cardápio, harmonizações e tivemos, ainda, consultoria de profissionais’, explica Romero.

Para o novo negócio, foi preciso ainda investir na contratação de profissionais de áreas diferentes e oferecer capacitação a esses colaboradores. As habilidades dos sócios também contaram pontos para a escolha do quadro de pessoal e divisão de atividades, pois cada um assumiu uma responsabilidade na cafeteria. “O ponto exato para dar tudo certo é sempre na mesa, tomando café. Como é uma sociedade, às vezes amarga um pouco, mas os gostos se aproximam”, relata. Romero acrescenta que todo investimento em estrutura e profissionais foi necessário, porque a proposta deles é promover experiência única, que permita o consumo de um produto mais frutado e saboroso que os cafés tradicionais, vendidos nos supermercados.

Diante disso, além do simples cafezinho, o mercado de grãos premium tem ganhado adeptos. Pesquisas indicam que o consumo deste tipo de produto está crescendo 15% ao ano. Goiânia tem diversas casas especializadas em grãos de qualidade superior, 100% arábica, servidos nos mais diversos métodos de preparo e com acompanhamentos de dar água na boca, seja na linha de lanches e confeitaria, seja em pratos principais, elaborados para satisfazer paladares exigentes. “Depois que a pessoa começa a beber café especial, o paladar não aceita mais o tradicional, porque fica fácil identificar a qualidade do produto”, pondera Romero.