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18 de novembro de 2019
Ramo pecuário sustenta altas mensal e anual do PIB do agronegócio
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O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro, calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea), da Esalq/USP, em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e com a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (Fealq), apresentou alta de 0,73% em agosto, crescendo pelo segundo mês consecutivo. No acumulado do ano - de janeiro a agosto -, o resultado se manteve positivo, com alta de 1,38%.

Entre os segmentos, insumos (0,41%), agroindústria (0,87%) e agrosserviços (1,23%) registraram crescimento em agosto, com ligeiro recuo apenas no primário (-0,26%). No acumulado de 2019 (janeiro a agosto), insumos (8,34%), agroindústria (2,51%) e agrosserviços (2,44%) também avançaram, enquanto o segmento primário seguiu registrando baixa (-3,25%) (Tabela 1).

Tabela 1. PIB do Agronegócio: Taxa de variação mensal e acumulada no período (%)

Os ramos agrícola e pecuário estão com cenários opostos na parcial de 2019. O agrícola apresentou certa estabilidade em agosto (-0,09%), mantendo o resultado negativo no acumulado do período, com queda de 1,82%. No mês, apenas o segmento primário apresentou redução (-0,95%), e os segmentos de insumos (0,39%), agroindustrial (0,26%) e de agrosserviços (0,05%) cresceram. Já no acumulado de janeiro a agosto, o segmento primário, juntamente com os agrosserviços, apresentaram reduções, de 10,68% e 0,70% respectivamente, enquanto o de insumos avançou 10,37% e a agroindústria, 1,11% (Tabela 2).

De forma semelhante ao apresentado em relatórios anteriores, o elevado custo de produção associado a menores preços agrícolas de produtos importantes tem pressionado o PIB do segmento, mesmo diante da expectativa de produção agrícola ligeiramente maior em 2019 (frente a 2018).

Tabela 2. Ramo Agrícola: Taxas de variação mensal e acumulada no período (%)

No ramo pecuário, ao contrário, observa-se crescimento para todos os segmentos, tanto no mês quanto no acumulado do ano. Para o ramo como um todo, registrou-se alta de 2,76% em agosto, com elevação de 9,99% no acumulado (janeiro a agosto). Dentre os segmentos, destacam-se as expansões mensais dos agrosserviços (3,95%), agroindústria (3,31%), primário (1,13%) e dos insumos (0,5%). No acumulado dos 8 primeiros meses de 2019 os avanços foram: primário (12,19%), agrosserviços (10,17%), agroindústria (8,3%) e os insumos (4%) conforme consta na Tabela 3.

Tabela 3. Ramo Pecuário: Taxas de variação mensal e acumulada no período (%)

Ressalta-se, como já tratado em relatórios anteriores, que o elevado custo de produção vem pressionando o segmento primário em ambos os ramos, agrícola e pecuário. No entanto, o ramo pecuário tem se beneficiado da combinação de aumento na quantidade produzida com alta significativa dos preços, motivada principalmente pela demanda aquecida por proteína animal no mercado externo – neste caso, a “Peste Suína Africana” (PSA) teve peso relevante para o bom desempenho dos embarques brasileiros.

SEGMENTO DE INSUMOS: Ramos agrícola e pecuário mantêm crescimento no período

O segmento de insumos do agronegócio apresentou aumento de 0,41% em agosto, mantendo o movimento de alta observado desde o início do ano. Com isso, acumulou crescimento de 8,34% nos primeiros oito meses de 2019.

Especificamente para agosto, os insumos agrícolas avançaram 0,39% e os insumos pecuários, 0,50%. No acumulado, os crescimentos foram expressivos, de 10,37% para os insumos agrícolas e de 4,00% para os pecuários (Tabelas 1 a 3). Conforme se observa na Figura 1, os insumos agrícolas seguem impulsionados pelas indústrias de fertilizantes e de defensivos. Para os insumos pecuários, os maiores preços para rações e o crescimento anual esperado da indústria de medicamentos explicam o resultado positivo.

Figura 1. Insumos: variação (%) anual de volume, dos preços e do faturamento – 2019/2018 com informações até agosto/2019

Para a indústria de fertilizantes, o aumento de 13,61% esperado do faturamento anual é reflexo das altas de 11,04% nos preços e de 2,31% na produção. Como já destacado em relatórios anteriores, a desvalorização da taxa de câmbio pode ser apontada como o principal responsável pelo avanço nos preços do produto. Especificamente em agosto/2019, observou-se desvalorização expressiva do Real, com influência direta sobre os preços dos fertilizantes. Ressalta-se que esse elevado patamar dos preços do produto ao longo de 2019, embora favoreça o faturamento da indústria de fertilizantes, deverá impactar fortemente sobre o custo de produção da safra agrícola 2019/2020. A maior parte dos fertilizantes para a próxima safra da soja já foi negociada no primeiro semestre de 2019, a preços nominais recordes para um período de nove anos, tornando o custo de produção de soja na safra 2019/2020 muito elevado.

Já para a indústria de defensivos, o principal impulso ao aumento de 34,91% esperado para o faturamento anual relaciona-se à expectativa de alta de 25,4% na produção anual. Como já ressaltado em relatórios anteriores, essa maior produção está associada à internalização da produção de defensivos em resposta à supressão da oferta por parte da China, como parte de medidas de mitigação da poluição. Os preços do produto também estão 7,58% maiores no período de janeiro a agosto de 2019, em comparação com o mesmo período de 2018. Os preços se aceleraram principalmente a partir de abril, influenciados, também, pela desvalorização do Real.

Para a indústria de máquinas agrícolas, apesar do aumento dos preços na comparação entre períodos (5,64%), a expectativa de queda da produção anual (-7,20%) levou à redução de 1,97% no faturamento esperado para 2019. Especificamente em agosto, a queda na produção se acentuou comparativamente a julho.

No ramo pecuário, tem-se elevação do faturamento esperado para a indústria de rações e para a de medicamentos veterinários. No caso das rações, o impulso vem dos preços maiores. No caso dos medicamentos, valores ligeiramente maiores e aumento modesto da produção anual esperada explicam o resultado.

SEGMENTO PRIMÁRIO: Alta nos custos de produção pressiona rendimento do segmento

O PIB do segmento primário do agronegócio recuou 0,26% em agosto, com baixa de 0,95% no ramo agrícola, mas alta de 1,13% no pecuário. No acumulado de janeiro a agosto de 2019, houve queda de 3,25% no segmento primário do agronegócio, motivada pela baixa no ramo agrícola (-10,68%), já que o ramo pecuário acumula elevação importante no segmento (12,19%) – Ver Tabelas 1 a 3.

A tendência acompanhada nos relatórios anteriores permaneceu e o cenário para o final do ano vai se consolidando: na comparação com 2018, os maiores custos de produção associados a quedas de preços para produtos importantes pressionaram a renda do segmento, que deverá cair no ano mesmo com o volume produzido pela agricultura estando superior ao de 2018. Especificamente para 2019, espera-se certa estabilidade (0,02%) no faturamento médio das atividades do segmento primário agrícola, considerando-se projeções de produção para o ano e preços de janeiro a agosto de 2019 comparados com os do mesmo período do ano anterior. Com relação à produção, em 2019, espera-se alta de 1,47% na média ponderada das atividades acompanhadas – impulsionada principalmente pelas maiores safras de milho, algodão, laranja, banana e mandioca. Já para preços, na comparação de janeiro a agosto de 2019 e de 2018, houve recuo médio de 1,43%, pressionados sobretudo pelas desvalorizações do algodão, do café, da mandioca, do milho e da soja.

Para o segmento primário da pecuária, em 2019, espera-se crescimento de 13,48% no faturamento, resultado dos avanços de 10,05% nos preços e de 3,12% na quantidade produzida esperada para o ano. Novamente, destaca-se a importância do efeito da Peste Suína Africana sobre as exportações e, então, sobre os preços domésticos das carnes para esse desempenho.

As Figuras 2 e 3 e a Tabela 4 detalham os resultados específicos do segmento por atividades agrícolas e pecuárias. Entre as culturas do segmento primário agrícola acompanhadas pelo Cepea, projetam-se crescimentos nos faturamentos em 2019 para algodão, banana, batata, cacau, cana-de-açúcar, feijão, laranja, milho, tomate, uva e lenha/carvão. Já as culturas para as quais se projetam quedas no faturamento são arroz, café, fumo, mandioca, soja, trigo, madeira em tora e madeira para celulose – Figura 2 e Tabela 4.

Dentre as culturas de grãos com projeção de crescimento do faturamento anual, destaca-se o caso do feijão, em que o aumento nos preços de significativos 91,93%, na comparação entre janeiro a agosto de 2019 frente ao mesmo período de 2018, explica o avanço projetado de 86,18% no faturamento, uma vez que há expectativa de uma menor produção para o ano (-2,99%). Segundo o Instituto Brasileiro de Feijão e Pulses (Ibrafe), este resultado advém da redução da área plantada, devido aos baixos preços nas últimas safras, e da falta de chuva, que afetaram a produtividade da cultura.

Os crescimentos anuais projetados para o faturamento das culturas do algodão (15,93%) e do milho (20,71%) refletem os aumentos esperados de produção. Na cultura do algodão, a expectativa de expansão da quantidade produzida para o ano é de 35,91%, enquanto houve redução nos preços reais (-14,70%) na comparação entre períodos. Como destacado pela Conab, a safra 2018/19 apresentou produção recorde, devido ao aumento da área destinada à cultura e às condições climáticas satisfatórias nas principais regiões produtoras. Nesse contexto, existe também um otimismo para a safra 2019/20 (não contemplada neste relatório), em que se espera incremento na área plantada e produção próxima à verificada na safra 2018/19. De acordo com a Companhia e com a equipe Algodão/Cepea, a redução nos preços é atribuída, além da conjuntura político-econômico de 2018, ao ritmo lento das negociações internas em agosto. Adicionalmente, as indústrias estão cautelosas dado o alto estoque interno, e a safra recorde possibilita a obtenção de preços mais atrativos por parte da indústria no segundo semestre.

No caso do milho, o aumento esperado na produção, de 23,96%, se reflete na projeção de crescimento do faturamento (20,71%), uma vez que os preços apresentaram queda de 2,62% na comparação de janeiro a agosto de 2019 frente a janeiro a agosto de 2018. De acordo com a Conab, a maior produção de milho está atrelada aos ganhos produtivos e ao avanço da área destinada à cultura. Estes resultados foram favorecidos pelas boas condições climáticas e pela antecipação do plantio da soja. Em relação aos preços, a equipe Grãos/Cepea indica que a redução se deve à maior disponibilidade interna do grão e à menor competitividade do cereal brasileiro no mercado internacional em março e abril de 2019. Destaca-se que a queda não foi maior devido ao comportamento dos preços em junho e agosto, influenciados pela alta cambial, pela demanda mais aquecida nos portos, pela retração por parte dos vendedores – que negociaram lotes pontuais na expectativa de altas mais expressivas nos preços do grão – e pelo ritmo forte das exportações.

No caso dos produtos hortifrutícolas, o crescimento esperado nos faturamentos anuais da banana (14,81%) e da laranja (16,43%) é reflexo dos aumentos dos preços, na comparação de janeiro a agosto de 2019 frente ao mesmo período de 2018, e das expectativas de maiores produções para o ano. Para a banana, o avanço nos preços foi de 9,25% na comparação entre períodos e o incremento esperado na produção é de 5,08%. De acordo com a equipe Hortifrúti/Cepea, o aumento nos preços é atribuído a dois fatores: i) menor disponibilidade da fruta devido a condições climáticas adversas no início de 2019, que afetaram o seu desenvolvimento; ii) redução do investimento na cultura, tendo em vista a baixa capitalização do produtor no segundo semestre de 2018. No caso da laranja, o avanço dos preços (9,57%) é reflexo da desaceleração da colheita da safra 2018/2019, que foi uma safra pequena, e da baixa qualidade das frutas no primeiro trimestre de 2019. Ainda no caso da laranja, espera-se que os preços recuem nos próximos meses, com o patamar médio de 2019 podendo ficar abaixo do de 2018 no fechamento do ano. Isso porque, mesmo com a demanda industrial aquecida pelo produto, a safra 2019 pode ser considerada bastante volumosa em relação à anterior.

Para a batata (137,87%) e o tomate (37,50%), a projeção de elevação do faturamento anual é resultado apenas do aumento nos preços na comparação entre períodos, uma vez que há uma expectativa de redução nas produções para o ano. No caso da batata, a alta nos preços foi de significativos 138,69% na comparação entre períodos. Segundo a equipe Hortifrúti/Cepea, as diminuições na produtividade e na área plantada limitaram a oferta dos tubérculos em 2019, fazendo com que o preço da batata se mantivesse em alta, apesar do clima seco e ameno nos últimos meses – que, por sua vez, tem favorecido a produtividade e a qualidade na maioria das praças. Vale lembrar que os dois anos anteriores foram de crise na bataticultura, com preços muitas vezes abaixo do custo de produção – cenário que influenciou na redução de área e dos investimentos na cultura em 2019.

Na cultura do tomate, o aumento nos preços foi de 40,25% na comparação entre janeiro a agosto de 2019 frente ao mesmo período de 2018, enquanto para a produção, a previsão para o ano é de queda (-1,96%). De acordo com a equipe Hortifrúti/Cepea, a alta dos preços e a retração da oferta são reflexos da menor área plantada, da menor intensidade da colheita e do excesso de chuva – que prejudicou tanto a produtividade quanto a qualidade do tomate. A equipe aponta que este cenário foi mantido mesmo com a maior oferta e menores preços em agosto, quando a elevação das temperaturas acelerou o processo de maturação dos frutos e houve a entrada do tomate rasteiro para mesa e a indústria nos atacados.

Figura 2. Agricultura: Variação (%) anual do volume, dos preços e do faturamento – 2019/2018 com informações de agosto/2019

Para a cultura da cana-de-açúcar, o crescimento projetado para o faturamento anual (3,49%) reflete a expectativa de expansão da quantidade produzida, em 0,30% para o ano, e o aumento nos preços de 3,18% na comparação de janeiro a agosto de 2019 em relação ao mesmo período de 2019. Esse aumento nos preços da cana, por sua vez, é influenciado pelos movimentos de alta nas cotações do açúcar. De acordo com a Conab, a expectativa de modesto crescimento da produção é reflexo do aumento da produtividade (2,7%), visto que há redução na área plantada (-2,4%) no País. Destacam-se os resultados das regiões Sudeste e Centro-Oeste, maiores produtores nacionais. No Sudeste, região responsável por mais de 63% da produção nacional na safra 2019/2020, houve queda na produção (-1,5%), devido à redução na área plantada da cultura (-4,0%) se comparada à da safra anterior, apesar aumento da produtividade (2,6%). No Centro-Oeste, responsável por mais de 22% da produção nacional na safra, o avanço da produção (3,7%) é resultado dos incrementos na área (2,7%) e na produtividade (1,0%).

Entre as culturas para as quais se projeta redução no faturamento, destaca-se o caso do café. A projeção de queda de 28,63% no faturamento é reflexo das reduções na expectativa de produção para o ano (-20,54%) e nos preços (-10,18%), na comparação entre períodos. Segundo a Conab e a equipe Café/Cepea, o cenário de queda nos preços está atrelado à grande oferta global do grão. Como destacado pela Companhia, a menor produção na safra 2019 é influenciada pela bienalidade negativa somada a condições climáticas adversas em período importante do ciclo do café.

Para a soja, a projeção de menor faturamento (-9,54%) também se deve às diminuições do preço (-6,19%), na comparação entre períodos, e à expectativa de menor produção anual (-3,56%). Segundo a equipe Grãos/Cepea, as reduções nos preços no acumulado do ano não foram maiores devido às altas observadas de junho a agosto. Em junho, como destacado em relatório anteriores, os preços foram impulsionados pelo aumento nos contratos futuros CME Group (Bolsa de Chicago), que, por sua vez, foram influenciados pelas condições climáticas desfavoráveis no cinturão agrícola nos Estados Unidos. Em agosto, as altas nos preços estiveram atreladas à desvalorização do Real, ao baixo excedente da soja brasileira e à expectativa de maiores demandas externa e interna. A queda na produção, por sua vez, de acordo com a Conab, se deve à menor produtividade em algumas regiões produtoras (-5,5%), tendo em vista o clima desfavorável entre no fim de 2018 e início de 2019. Apesar da redução, a Companhia ressalta que a safra 2018/2019 se configura como a segunda maior da série histórica, resultado que está atrelado ao aumento de área destinada à cultura (2,1%) em comparação à da temporada 2017/2018.

No caso da cultura do trigo, destaca-se a mudança na projeção de faturamento anual, frente à apresentada no relatório anterior. Com dados até julho, havia uma expectativa de crescimento, devido ao avanço dos preços na comparação entre períodos (janeiro a julho de 2019 e janeiro a julho de 2018), associado à quase estabilidade da produção (-0,51%). Entretanto, para agosto, espera-se uma redução no faturamento (-4,28%), reflexo da expectativa de menor produção (-5,13%, reestimativa para baixo), uma vez que houve um ligeiro aumento nos preços de 0,89% na comparação entre janeiro e agosto de 2019 frente ao mesmo período em 2018. Segundo a Conab e a equipe de Trigo/Cepea, a menor produção esperada e a reação nos preços são resultados das adversidades climáticas (geada e estiagem e precipitação abaixo do normal nos principais estados produtores).

Para o arroz, a expectativa de redução de 6,92% no faturamento anual é reflexo da expectativa de menor produção (-13,39%), uma vez que houve um aumento de 7,47% nos preços na comparação entre períodos. De acordo com a equipe Arroz/Cepea, a alta nos preços se deve à maior demanda e à menor oferta do grão. Adicionalmente, como destacado no relatório anterior, o aumento dos preços no período é influenciado pelas baixas cotações do arroz nos primeiros meses de 2018, quando se esperava uma maior disponibilidade da safra 2017/2018. De acordo com a Conab, a menor produção está atrelada às reduções de área e de produtividade, esta última prejudicada pelo clima (excesso de calor no período de florescimento).

Tabela 4. Agricultura: Variação (%) anual do volume, dos preços e do faturamento – 2019/2018 com informações de agosto/2019

Para o segmento primário da pecuária, esperam-se aumentos nos faturamentos anuais de todas as atividades acompanhadas, como se observa na Figura 3.

O crescimento esperado do faturamento da bovinocultura de corte é de 5,97%, conduzido pela variação de 4,10% do preço, na comparação entre períodos, e pelo avanço esperado de 1,79% na produção. De acordo com a equipe Boi/Cepea, o aumento nos preços é resultado da combinação de restrição na oferta de animais prontos para abate com o bom desempenho das exportações da carne. Apesar da demanda interna fragilizada, a equipe ainda destaca os resultados inéditos nos embarques, que impulsionaram os preços da carne no mercado brasileiro – recorde nominal da série histórica no mercado atacadista.

Para a bovinocultura do leite, a variação do faturamento anual é de 17,59%, impulsionada pelos aumentos no preço (12,03%) e na produção (4,96%). De acordo com a equipe Leite/Cepea, apesar do avanço esperado para a produção, a oferta de leite no campo tem sido limitada, o que, por sua vez, tem influenciado a alta dos preços. Este contexto de baixa oferta tem aumentado a competição entre indústrias para aquisição de matéria-prima.

Figura 3. Pecuária: Variação anual dos preços e do faturamento 2019/2018 com informações de agosto/2019

No caso da suinocultura, projeta-se um aumento no faturamento de 34,75%, decorrente da alta de 29,42% nas cotações reais na comparação entre janeiro a agosto de 2019 e o mesmo período de 2018 e da maior produção esperada para o ano (4,12%). De acordo com a equipe Suíno/Cepea, apesar de menores preços e demanda externa no mês de agosto, a alta de preços em 2019 como um todo na comparação com 2018 tem sido influenciada pela maior procura externa nos meses anteriores em decorrência da Peste Suína Africana (PSA).

Quanto ao mercado de aves para corte, o crescimento esperado no faturamento (21,18%) é reflexo do aumento significativo nos preços reais, de 22,45% na comparação entre janeiro a agosto de 2019 frente ao mesmo período de 2018, enquanto a projeção de produção para o ano apresenta redução de 1,04%. Segundo a equipe Frango/Cepea, a forte alta das cotações do frango se deve ao bom desempenho das exportações e à demanda aquecida nos últimos meses – também em decorrência dos casos de Peste Suína Africana.

SEGMENTO INDUSTRIAL: Crescimento nos Ramos Agrícola e Pecuário

O segmento agroindustrial registrou alta de 0,87% em agosto de 2019, com crescimentos de 0,26% da indústria de base agrícola e de 3,31% da de base pecuária. No acumulado dos oito primeiros meses do ano, o segmento registrou elevação de 2,51%, mantendo crescimento para os dois ramos: 1,11% na indústria de base agrícola e de 8,30% na de pecuária (Tabelas 1, 2 e 3).

Na indústria de base agrícola, espera-se alta de 0,55% no faturamento anual, resultado do avanço de 1,68% nos preços médios, tendo em vista a queda de 1,11%, considerando-se a produção média ponderada do segmento. Para a indústria de base pecuária, espera-se aumento de 10,02% no faturamento, resultado de maiores preços (8,56%) e produção (1,35%), ambos em média.

No acompanhamento feito pelo Cepea para a evolução do PIB, as indústrias de base agrícola que apresentaram projeção de crescimento do faturamento foram: celulose e papel, vestuários, moagem e fabricação de produtos amiláceos, conservas de frutas/legumes/outros vegetais, açúcar, bebidas e outros produtos alimentares. As demais indústrias registram perspectivas de redução (Figura 4).

Entre as indústrias de base agrícola com resultado positivo para o ano, a do açúcar se destaca com projeção de crescimento de 18,7% do faturamento anual. Esse resultado decorre de preços 8,41% maiores na comparação entre períodos (janeiro a agosto de 2018 e de 2019) e da maior produção esperada para 2019, com alta projetada em 9,45%. Entre maio e julho, o preço do produto havia recuado no mercado brasileiro, mas, em agosto, houve novo aumento. Naquele período, as reduções foram influenciadas pelo andamento da safra 2019/2020 e pela perspectiva de novo superávit no balanço global do produto, com o aumento da produção em países como a China e a Índia. Especificamente em agosto, o maior direcionamento da cana para a produção de etanol, a menor disponibilidade do produto, devido aos altos volumes negociados no mês anterior, e o dólar elevado (que estimula a exportação) podem ter contribuído para a elevação do preço.

Figura 4. Agroindústrias de base agrícola: variação anual do volume, preços reais e faturamento das indústrias agrícolas acompanhadas

Quanto às indústrias que apresentaram desempenho negativo esperado, destacam-se a de café, a de óleos vegetais e a de biocombustíveis. No caso da indústria de café, a queda esperada no faturamento, de 11,5%, reflete a redução dos preços em magnitude semelhante na comparação entre períodos, ao passo que a produção está praticamente estável frente a 2018. Como mencionado em relatório anterior, com as menores cotações e qualidade do café em grão, a indústria também reduziu seus preços.

No caso da indústria de óleos, a queda de 9,7% esperada para o faturamento reflete os menores preços na comparação entre períodos (-5,92%) e também a baixa na produção anual esperada (-4%). Especificamente em agosto, ao contrário, houve importante elevação dos preços. Segundo a equipe Grãos/Cepea, o aumento das cotações do óleo de soja no mês refletiu principalmente a demanda interna forte, especialmente para a produção de biodiesel. O impulso à demanda, por sua vez, relaciona-se à nova medida aprovada pela ANP (Agência Nacional de Petróleo, Gás Natural, e Biocombustíveis) no início de agosto, que determinou que a mistura de biodiesel ao óleo diesel deveria passar de 10% (B10) para 11% (B11) a partir de 1º de setembro.

Na indústria de biocombustíveis, a queda esperada do faturamento (-5,9%) reflete as reduções de 1,44% nos preços na comparação entre períodos e de 4,57% na produção esperada para o ano. Ressalta-se que a baixa na produção não foi maior, devido ao crescimento importante na produção de etanol de milho, de 70,3% frente à safra anterior. Como mencionado em relatório anterior, segundo a Conab, a produção de etanol de cana na safra passada foi recorde, de modo que a redução da produção retratada reflete uma normalização. Quanto aos preços, embora estejam em patamares menores que os de 2018, se elevaram em agosto. Segundo a equipe Etanol/Cepea, a alta foi motivada pela demanda aquecida pelo produto.

Quanto às indústrias de base pecuária, conforme descrito na Tabela 5, espera-se redução de faturamento apenas para a de couro e calçados de couro. Para essa indústria, na comparação entre janeiro a agosto de 2019 e o mesmo período de 2018, os preços recuaram 2,12% e para a produção espera-se baixa de 2,78%. Segundo a Abicalçados (Associação Brasileira das Indústrias de Calçados), o fraco desempenho da indústria reflete a lenta recuperação da economia brasileira, sendo que a maior parte da produção industrial de calçados se destina ao mercado doméstico.

Para a indústria do abate, em consonância com os resultados a montante das cadeias, espera-se expansão do faturamento em 2019, de 13,19%. Enquanto os preços estão em média 11,83% maiores de janeiro a agosto de 2019, frente ao mesmo período de 2018, para a produção, espera-se aumento de 1,27%. Novamente, destaca-se o efeito positivo sobre o setor no País da ocorrência da PSA em países asiáticos. Apesar do bom resultado, especificamente em agosto, os preços para a indústria recuaram frente a julho, com destaque para as carnes suína e de aves. Segundo as equipes Aves e Suínos/Cepea, essa queda resultou de demandas interna e externa aquém das esperadas.

Para a indústria de laticínios, preços 2,04% maiores e alta de 2,7% na produção levaram ao aumento esperado no faturamento.

Tabela 5. Agroindústrias de base pecuária: variação anual do volume, preços reais e faturamento das indústrias pecuárias acompanhadas

SEGMENTO DE SERVIÇOS: segmento acumula alta de janeiro a agosto

Como observado na Tabela 1, o PIB dos agrosserviços do agronegócio brasileiro cresceu novamente em agosto, 1,23%. Com isso, o resultado acumulado nos oito primeiros meses do ano passou para 2,44%. Como já destacado em relatórios anteriores, o segmento tem sido impulsionado pelos serviços prestados ao ramo pecuário. O segmento de serviços pecuários avançou 3,95% em agosto, acumulando alta de 10,17% no período. Os maiores preços e produção no ramo, principalmente dentro da porteira e na agroindústria, explicam esse resultado.  Novamente, destaca-se o impacto positivo sobre a demanda por serviços do elevado ritmo das exportações de proteína brasileira.

No ramo agrícola, o PIB dos agrosserviços se manteve praticamente estável em agosto, com leve alta de 0,05%. Ainda assim, no acumulado do ano, houve baixa de 0,7%. Esse cenário reflete principalmente o impacto sobre a demanda de serviços da menor produção de agroindústrias importantes, como as de base florestal (produtos e móveis de madeira, papel e celulose), a de biocombustíveis, as têxteis e de vestuário, entre outras. Além disso, o estreitamento das margens ao longo das cadeias agrícolas, devido aos preços menores e custos maiores, também se reflete negativamente na margem dos serviços prestados ao ramo.

CONCLUSÕES

O PIB do agronegócio brasileiro cresceu novamente em agosto (0,73%), acumulando alta de 1,38% no ano (de janeiro a agosto). Os comportamentos opostos entre os ramos agrícola e pecuário continuaram sendo verificados em agosto.

O ramo agrícola manteve resultado negativo (-1,82%) no acumulado do período, em função, sobretudo, da retração dentro da porteira. Para a agricultura, a tendência observada  nos relatórios anteriores permaneceu, e o cenário para o final do ano vai se consolidando: na comparação com 2018, os maiores custos de produção associados a retrações de preços para produtos importantes (como algodão, café, mandioca, milho e soja) têm pressionado a renda do segmento, que deverá cair no ano mesmo com o aumento do volume produzido frente a 2018 (neste caso, impulsionado principalmente pelas maiores safras de milho, algodão, laranja, banana e mandioca).

No ramo pecuário, ao contrário, foram observados crescimentos para todos os segmentos, tanto no mês quanto no acumulado dos 8 primeiros meses do ano. O elevado custo de produção também tem marcado a pecuária. Mas, as cadeias do ramo têm se beneficiado da combinação de aumento na quantidade produzida com alta significativa dos preços, elevação esta que tem sido motivada principalmente pela demanda aquecida por proteína animal no mercado externo, com destaque para o efeito da Peste Suína Africana.

Especificamente quanto ao segmento de insumos do agronegócio, esse tem crescido sistematicamente desde o início do ano e, com isso, acumulou avanço de 8,34% de janeiro a agosto. O segmento tem sido impulsionado principalmente pelos maiores preços de fertilizantes e defensivos, e pela maior produção deste último insumo. Ressalta-se que esse elevado patamar dos preços dos fertilizantes ao longo de 2019, embora favoreça o faturamento do segmento de insumos, deverá impactar fortemente o custo de produção da safra agrícola 2019/2020.

Finalmente, o PIB dos agrosserviços também acumulou crescimento no período, com alta no ramo pecuário e queda no agrícola. No ramo pecuário, os maiores preços e produção - principalmente dentro da porteira e na agroindústria, com destaque para o efeito da Peste Suína Africana - explicam o crescimento do PIB. No ramo agrícola, a baixa reflete o impacto negativo, sobre a demanda de serviços, da menor produção de agroindústrias importantes – como as de base florestal (produtos e móveis de madeira, papel e celulose), a de biocombustíveis, as têxteis e de vestuário - e também o estreitamento das margens ao longo das cadeias agrícolas, devido aos preços menores e custos maiores.

ANEXO I – Evolução mensal do PIB DO AGRONEGÓCIO

A1) PIB do Agronegócio: Taxas de variação mensal e acumulado do período (em %)

A2) PIB do Agronegócio: Participações dos segmentos (em %)

A3) PIB Volume do Agronegócio: Taxa anual (em %)*

  • Nota técnica: O PIB Volume do Agronegócio trata-se do PIB do agronegócio calculado pelo critério de preços constantes. Resulta, portanto, a variação apenas do volume de produção. Este é o indicador de PIB comparável às variações apresentadas pelo IBGE.

A4) PIB DO AGRONEGÓCIO - METODOLOGIA

O Relatório PIB do Agronegócio Brasileiro é uma publicação mensal resultante da parceria entre o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Esalq/USP, a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA) e a Fundação de Estudos Agrários Luiz de Queiroz (FEALQ). O agronegócio é entendido como a soma de quatro segmentos: insumos para a agropecuária, produção agropecuária básica (ou primária), agroindústria (processamento) e agrosserviços – como na Figura que segue. A análise desse conjunto de segmentos é feita para o ramo agrícola (vegetal) e para o pecuário (animal). Ao serem somados, com as devidas ponderações, obtém-se a análise do agronegócio.

Pelo critério metodológico do Cepea/Esalq-USP, o PIB do agronegócio é medido pela ótica do produto, ou seja, pelo Valor Adicionado (VA) total deste setor na economia. Ademais, avalia-se o VA a preços de mercado (consideram-se os impostos indiretos menos subsídios relacionados aos produtos). O PIB do agronegócio brasileiro refere-se, portanto, ao produto gerado de forma sistêmica na produção de insumos para a agropecuária, na produção primária e se estendendo por todas as demais atividades que processam e distribuem o produto ao destino final. A renda, por sua vez, se destina à remuneração dos fatores de produção (terra, capital e trabalho).

Após estimado o valor do PIB do agronegócio no ano-base, que desde janeiro/17 refere-se ao ano de 2010, parte-se para evolução deste valor de modo a se gerar uma série histórica, por meio de um amplo conjunto de indicadores de preços e produção de instituições de pesquisa e governamentais. Seja para a estimação anual do valor do PIB, ou para as reestimativas mensais das previsões anuais, consideram-se informações a respeito da evolução do Valor Bruto da Produção (VBP) e do Consumo Intermediário (CI) dos segmentos do agronegócio. Pela evolução conjunta do VBP e do CI, estima-se o crescimento do valor adicionado pelo setor. 

Com base nos procedimentos mencionados e processos adicionais realizados pelo Cepea, os cálculos do PIB do agronegócio resultam em dois indicadores principais, que retratam o comportamento do setor por diferentes óticas:

•          PIB-renda Agronegócio (equivale ao PIB divulgado anteriormente pelo Cepea): reflete a renda real do setor, sendo consideradas no cálculo variações de volume e de preços reais, sendo estes deflacionados pelo deflator implícito do PIB nacional.

•             PIB-volume Agronegócio: PIB do agronegócio pelo critério de preços constantes. Resulta daí a variação apenas do volume de produção. Este é o indicador de PIB comparável às variações apresentadas pelo IBGE.

Mensalmente, o foco de análise principal é o PIB-renda Agronegócio, que reflete a renda real do setor. Por conveniência textual, o PIB-renda do agronegócio é denominado apenas como PIB do Agronegócio ao longo deste relatório. Destaca-se que as taxas calculadas para cada período consideram igual período do ano anterior como base, exceto para as quantidades referentes às safras agrícolas, para as quais computa-se a previsão de safra para o ano (frente ao ano anterior).

Importante também destacar que cada relatório considera os dados disponíveis – preços observados e estimativas anuais de produção – até o seu fechamento. Em edições futuras, ao serem agregadas informações mais atualizadas, há a possibilidade, portanto, de ocorrer alteração dos resultados, tanto no que se refere ao mês corrente, como também ao que se refere a meses e anos passados. Recomenda-se, portanto, sempre o uso do relatório mais atualizado. Para uma análise mais detalhada dos aspectos metodológicos, bem como dos resultados dos demais indicadores (PIB volume, Consumo Intermediário, etc.) ver http://www.cepea.esalq.usp.br/br/pib-do-agronegocio-brasileiro.aspx