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Boletim
23 de novembro de 2018
Encarecimento de insumos e queda dos preços dos produtos agropecuários pressionam o PIB do agronegócio em agosto/2018
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O Produto Interno Bruto (PIB) do agronegócio brasileiro, calculado pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea/USP), em parceria com a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), recuou 0,21% em agosto. No acumulado do ano (janeiro a agosto), o desempenho segue negativo, em 1,52%.

Enquanto os segmentos de insumos (2,37%) e primário (0,06%) apresentaram altas em agosto, a agroindústria (-0,34%) e agrosserviços (-0,55%) recuaram. Já no acumulado entre janeiro e agosto de 2018, os segmentos primário e de agrosserviços apresentaram retrações, de 4,04% e 2,13%, respectivamente. O segmento de insumos foi o que apresentou melhor desempenho no acumulado do período, com alta de 4,79%, seguido da agroindústria, que registrou crescimento de 0,55%.

Tabela 1. PIB do Agronegócio: Taxa de variação mensal e acumulada no período (%)

Entre os ramos agrícola e pecuário, os cenários são bastante distintos. Enquanto o ramo agrícola apresentou crescimento de 0,41% em agosto e de 2,02% no acumulado do ano; a renda gerada no ramo pecuário caiu 1,75% em agosto e já acumula queda de 9,8% nos 8 primeiros meses de 2018.

Tabela 2. Ramo Agrícola: Taxas de variação mensal e acumulada no período (%)

Embora no acumulado do ano, o resultado do segmento primário do ramo agrícola permaneça negativo (-2,67%), houve crescimento em agosto não apenas nesse segmento (0,68%), mas em todos os demais: insumos (2,83%), agrosserviços (0,31%) e agroindústria (0,05%). Os resultados acumulados entre janeiro e agosto de 2018 também apontam crescimento da renda gerada: insumos (7,84%), agroindústria (3,42%) e agrosserviços (3,07%). 

Tabela 3. Ramo Pecuário: Taxas de variação mensal e acumulada no período (%)

O baixo ritmo da atividade econômica e o fechamento de importantes mercados internacionais da carne brasileira, repercutem de forma disseminada em todos os segmentos do ramo pecuário brasileiro, com exceção do crescimento de 1,46%, em agosto, do segmento de insumos, embora o resultado acumulado no ano também se mostre negativo (-0,92%). Para todos os demais segmentos do ramo pecuário, os desempenhos mensal (agosto) e no acumulado do ano (janeiro a agosto) se mostram negativos: segmento primário, ou “dentro da porteira” encolheu 1,18% em agosto e 6,71% nos oito primeiros meses de 2018; agroindústria (-1,84% e -9,8%) e agrosserviços (-2,47% e -12,73%), respectivamente (Tabelas 2 e 3).

SEGMENTO DE INSUMOS: insumos agrícolas impulsionam resultado positivo

O segmento de insumos do agronegócio apresentou altas de 2,37% em agosto e de 4,79% no acumulado de janeiro a agosto de 2018. Enquanto o desempenho dos insumos agrícolas tem sido positivo (com altas de 2,83% em agosto e de 7,84% no acumulado do ano), no ramo pecuário esse segmento apresenta retração de -0,92% no ano, apesar de o crescimento de 1,46% em agosto (Tabelas 1 a 3).

Considerando-se dados e informações disponíveis até agosto/18, projetam-se altas de 21,67% no faturamento anual de 2018 das indústrias de fertilizantes, de 7,56% na de defensivos, e de 0,59% na de máquinas agrícolas. Já para rações e medicamentos para animais, a expectativa é de reduções anuais de 1,55% e de 0,88%, respectivamente – Figura 1.

Figura 1. Insumos: variação (%) anual de volume, dos preços e do faturamento – 2018/2017 com informações até agosto/2018

Fonte: Cepea/USP e CNA (elaborado a partir de dados do IBGE, FGV e Anda).

No caso da indústria de fertilizantes, a elevação prevista no faturamento decorre tanto dos maiores preços do produto – com alta de 15,77% na comparação de janeiro a agosto de 2018 com o mesmo período de 2017 – quanto da expectativa de produção anual 5,09% maior.  O preço interno do insumo no ano, por sua vez, tem sido impulsionado pelas maiores demandas doméstica e externa, pela alta nos preços internacionais, pela desvalorização do Real frente ao dólar e também pela elevação dos custos resultante do tabelamento de fretes. Já a projeção de alta no volume anual está associada aos bons resultados observados desde julho. Segundo informações de mercado, o resultado positivo no período reflete a maior movimentação já prevista para agosto por conta da demanda para o semeio da safra de grãos 2018/2019 e a movimentação de volumes que não foram entregues em meses anteriores, devido a impasses atrelados à greve dos caminhoneiros e ao tabelamento de fretes.

Quanto à indústria de defensivos, a projeção de alta de 7,56% do faturamento atrela-se à previsão de maior quantidade (12,70%), apesar do recuo de 4,56% nos preços na comparação entre períodos (janeiro a agosto de 2018 frente ao mesmo período de 2017). Já para a indústria de máquinas agrícolas, o crescimento modesto de 0,59% esperado para o ano reflete o balanço entre preço 1,68% menor e produção 2,30% maior.

Para rações, preços (-1,35%) e produção (-0,20%) em baixa têm pressionado o faturamento, cuja expectativa para 2018 é de queda de 1,55%. Segundo o Sindirações, o desempenho do setor de rações em 2018 tem sido aquém do esperado pelos agentes relacionados à atividade, devido a fatores como a elevação do custo da alimentação animal, impulsionado pelos preços dos grãos, a demanda reduzida, em função de efeitos negativos incorridos dos embargos europeus (à carne de frango) e russo (à carne suína) ao setor de carnes, e o bloqueio logístico durante a greve dos caminhoneiros e consequentes custos relacionados ao tabelamento dos fretes.

SEGMENTO PRIMÁRIO: baixo preço pecuário e maior custo agrícola pressionam a renda “dentro da porteira”

A renda do segmento primário do agronegócio apresentou leve alta de 0,06% em agosto, impulsionada pelo crescimento de 0,68% no ramo agrícola, frente à redução de 1,18% no pecuário. No acumulado do ano, no entanto, o resultado se mantém negativo, em 4,04% – com reduções de 2,67% no ramo agrícola e de 6,71% no pecuário (Tabelas 1, 2 e 3).

Para 2018, espera-se alta de 2,40% no faturamento médio das atividades do segmento primário agrícola. Após o forte crescimento da produção agrícola em 2017, para 2018 espera-se nova alta, embora mais modesta – impulsionada pela expansão esperada na quantidade produzida de culturas importantes em termos de valor de produção, como algodão, café, trigo e soja. Com relação a preços, na comparação entre o período de janeiro a agosto de 2018 com o mesmo período de 2017, houve alta de 0,91% na média ponderada das atividades acompanhadas. Por outro lado, a projeção anual da renda do segmento segue pressionada pelo aumento dos preços de importantes insumos para a produção, como fertilizantes, sementes e óleo diesel.

Já no segmento primário da pecuária, a expectativa acerca do faturamento segue em baixa, por conta, especialmente, dos preços 6,03% menores na comparação de janeiro a agosto de 2018 com o mesmo período de 2017. Por outro lado, para a produção, espera-se elevação de 2,77% no ano. Assim como no segmento primário agrícola, o aumento de preços para insumos pecuários também tem influenciado negativamente a renda do segmento, com elevações importantes para diesel e eletricidade e também para o milho.  

As Figuras 2 e 3 e a Tabela 4, apresentadas a seguir, detalham os resultados do segmento de acordo com culturas agrícolas e atividades pecuárias específicas. Entre as culturas do segmento primário agrícola acompanhadas pelo Cepea, há expectativa de aumento do faturamento do algodão, cacau, café, soja, tomate, trigo, madeira em tora, madeira para papel e celulose e lenha/carvão. Já as culturas para as quais as perspectivas são de queda no faturamento são arroz, banana, batata, cana-de-açúcar, feijão, fumo, laranja, mandioca, milho e uva – Figura 2 e Tabela 4.

Dentre as culturas com perspectivas de crescimento de faturamento em 2018, destaca-se o trigo, cuja expectativa de aumento é sustentada pela alta de 31,67% nos preços - na comparação de janeiro a agosto de 2018 frente ao mesmo período de 2017 - e pelo aumento esperado na quantidade produzida para o ano (20,65%). Segundo o levantamento da Conab, a expectativa de elevação da produção está associada aos expressivos incrementos da área plantada (6,4%) e da produtividade (15,5%), sendo esta última, resultado da aplicação de um bom pacote tecnológico aliado a condições climáticas favoráveis. Em relação aos preços, as expressivas oscilações nas cotações do trigo refletem a divergência de expectativas entre agentes do setor. Enquanto compradores estavam à espera de uma maior oferta - e consequente queda nos preços - os vendedores, atentos às adversidades climáticas que poderiam prejudicar a produção e a qualidade do trigo, tinham expectativa de recuperação nos preços. No cenário externo, o clima também prejudicou a produção em diversos países, refletindo na sustentação dos preços internacionais.

Do mesmo modo, para o algodão, o crescimento esperado no faturamento reflete a projeção de alta de 29,24% da produção para 2018 e o aumento de 14,95% nos preços na comparação entre períodos. Apesar da alta acumulada de preços, a comercialização da pluma esteve enfraquecida em agosto devido à menor demanda por parte da indústria e à venda de pequenos volumes no spot. Já em relação aos contratos futuros, a liquidez esteve maior. Já a Conab destaca que a disputa comercial entre os Estados Unidos e a China, além dos problemas climáticos norte-americanos, favoreceram a sustentação dos preços no mercado brasileiro ao longo dos meses deste ano. Com relação à produção, a Companhia ressalta que esta safra apresenta aumentos na área e na produtividade (por sua vez, influenciada pelas condições climáticas favoráveis à cultura).

Para o café, a expectativa de alta de 18,7% do faturamento está atrelada à alta de 33,21% na produção esperada para 2018, mesmo diante de preços 10,93% menores até agosto/2018, comparativamente ao mesmo de 2017. Segundo dados da Conab, as boas condições climáticas para o desenvolvimento da cultura e o ano de bienalidade positiva trouxeram ganhos de produtividade para diversos estados produtores. No entanto, os preços do grão recuaram devido principalmente ao aumento da oferta.

No caso da soja, o crescimento esperado de 17,5% do faturamento reflete a expectativa de aumento de 4,3% da quantidade produzida, e a elevação de 12,68% dos preços entre janeiro a agosto de 2018 e o mesmo período de 2017. Segundo o levantamento da Conab, a expectativa de aumento da produção deriva do grande crescimento de área semeada e da produtividade recorde. Esse ganho de produtividade decorre da aplicação de um bom pacote tecnológico, aliada a precipitações e temperaturas favoráveis, apesar de alguns problemas registrados na Região Sul do país. A desvalorização do Real frente ao Dólar, a maior demanda chinesa e a redução do estoque nacional influenciaram as altas de preço observadas em agosto.   

Figura 2. Agricultura: Variação (%) anual do volume, dos preços e do faturamento – 2018/2017 com informações até agosto/2018


Tabela 4. Agricultura: Variação (%) anual do volume, dos preços e do faturamento – 2018/2017 com informações até agosto/2018 

Dentre as culturas para as quais projeta-se redução do faturamento anual, as expectativas negativas sobre o faturamento do feijão refletem a queda dos preços reais, de 31,49% de janeiro a agosto de 2018 comparativamente ao mesmo período do ano anterior. De acordo com o Instituto Brasileiro do Feijão e Pulses (IBRAFE), houve excesso de oferta no mercado de feijão em agosto pressionando os preços. No período, a entidade destaca que produtores precisavam de maiores preços para cobrir os custos, mas os compradores não estiveram dispostos a elevar os valores pagos, devido à disponibilidade no mercado. Além dos preços em baixa, a produção de feijão apresenta uma queda esperada de 6,33% para o ano. De acordo com a Conab, o clima desfavorável, com falta de chuvas em algumas localidades produtoras, prejudicou a produção.

No caso do milho, a diminuição esperada do faturamento reflete uma projeção de queda de produção, de 16,01%, apesar dos preços terem aumentado 17,48% na comparação com 2017. De acordo com a Conab, a área destinada à cultura foi menor na primeira safra e, na segunda, houve queda na produtividade devido, principalmente, ao estresse hídrico.  Quanto aos preços do milho, a desvalorização cambial elevou as cotações, na medida em que favoreceu as exportações. Além disso, a menor oferta doméstica também impulsionou os preços internos em agosto.

        Para a cana-de-açúcar, a redução projetada no faturamento anual é reflexo da queda de 14,54% dos preços, na comparação entre janeiro a agosto de 2018 frente ao mesmo período de 2017. Já em relação à quantidade produzida, projeta-se crescimento para o ano, de 0,36%. A Conab destaca que, em algumas regiões, como no Sudeste, houve queda na produção devido às complicações climáticas que acarretaram em menor produtividade frente à safra anterior. No entanto, a Companhia também destaca maior área cultivada, compensando tal efeito.

Para o segmento primário da pecuária, há expectativa de baixa no faturamento para todas as atividades, exceto para a bovinocultura de corte. Como se observa na Figura 3, a queda dos preços reais até o momento tem sido determinante para explicar esse resultado negativo.

Figura 3. Pecuária: Variação anual do volume, dos preços e do faturamento 2018/2017 com informações até agosto/2018

Para a bovinocultura de corte, o aumento esperado do faturamento deriva da expectativa de aumento de 2,46% da produção e de leve aumento de 0,4% dos preços na comparação entre os oitos primeiros meses de 2018 face ao mesmo período de 2017. O aumento nos preços em agosto esteve atrelado, principalmente, à menor oferta de animais para abate, e a desvalorização cambial impulsionou as vendas externas, enxugando a oferta doméstica de carne e elevando os preços da arroba do boi.

 Na atividade leiteira, a redução projetada do faturamento anual reflete a queda registrada nos preços, de 3,99% na comparação entre períodos, e também a menor expectativa de produção para o ano, com queda de 0,31%. O mercado de leite segue regular desde o começo de 2018, apresentando menor oferta e baixos investimentos.

Com relação à suinocultura, a queda esperada do faturamento decorre de preços 22,17% menores - na comparação entre janeiro a agosto de 2018 e o mesmo período em 2017 – apesar da expectativa de produção 4,57% maior. A maior demanda proveniente dos frigoríficos elevou os preços em agosto, comparativamente ao mês anterior. No entanto, no acumulado do ano, comparativamente ao período entre janeiro e agosto de 2017, as cotações seguem significativamente menores.

No mercado de aves, tanto para corte como para postura, a projeção de queda do faturamento associa-se à queda nos preços (de 1,88% para corte e de 18,38% para postura). Em contrapartida, as expectativas de produção são de aumento, de 1,32% e de 7,50% para corte e postura, respectivamente. O mercado de aves seguiu enfraquecido no decorrer do mês, sendo a queda devida a menores demandas interna e externa. Essa retração, por sua vez, acabou elevando a competitividade da carne de frango frente às substitutas bovina e suína.

SEGMENTO INDUSTRIAL: Agroindústria recua em agosto

Depois dos crescimentos registrados em junho e julho, o segmento industrial voltou a recuar em agosto (-0,34%). No acumulado do ano, no entanto, houve aumento modesto de 0,55% (Tabela 1). Entre os ramos, mantém-se o cenário em que a agroindústria de base agrícola acumula crescimento, de 3,42% (após leve alta de 0,05% em agosto), enquanto a de base pecuária cai, -9,80% no período (depois de queda de 1,84% em agosto) – Tabelas 2 e 3.

 Na indústria de base agrícola, projeta-se alta anual de 3,08% no faturamento, refletindo as elevações de 2,51% na produção e de 0,56% nos preços reais, para a média das atividades industriais acompanhadas. No caso da indústria de base pecuária, projeta-se recuo anual de 1,35% no faturamento, com a média de preços das atividades industriais do ramo recuando 5,14% neste ano na comparação com o período de janeiro a agosto de 2017. Por outro lado, para a produção, espera-se alta de 3,99% para o ano.

No acompanhamento feito pelo Cepea para a evolução do PIB, as indústrias de base agrícola que apresentaram perspectivas de crescimento do faturamento foram: óleos vegetais, biocombustíveis, celulose e papel, produtos de madeira e móveis de madeira, bebidas. Por outro lado, as indústrias que apresentaram perspectivas de redução foram açúcar, moagem e fabricação de produtos amiláceos, fumo, indústria do café, conservas de frutas/legumes/outros vegetais, vestuários e têxtil e outros produtos alimentares (Figura 4).

Figura 4. Agroindústrias de base agrícola: variação anual do volume, preços reais e faturamento das indústrias agrícolas acompanhadas

Na indústria de biocombustíveis (etanol), a expectativa de evolução positiva no faturamento deve-se à projeção de aumento de produção anual de 11,6% e ao aumento de 5,9% nos preços de janeiro a agosto deste ano com relação ao mesmo período de 2017. Segundo a Conab, o incremento em quantidade produzida relaciona-se à menor destinação de ATR para a produção de açúcar. O mês de agosto foi marcado pela demanda aquecida pelo etanol hidratado, notadamente nos postos de São Paulo, diante da paridade de preços favorável para o biocombustível com relação à gasolina. Porém, mesmo com a demanda aquecida, o preço do etanol para o produtor em agosto esteve inferior ao de julho devido às quedas verificadas na primeira quinzena do mês.

Com relação ao açúcar, os preços recuaram 24,37% de janeiro a agosto com relação ao mesmo período de 2017, resultando em redução de 9,56% na produção. A queda acumulada nos preços foi provocada, em grande parte, pelo excedente internacional do produto em 2018. Em agosto, porém, foram registrados sinais de recuperação de preços em razão da desvalorização do Real frente ao Dólar, cenário que fortaleceu a postura das usinas nas negociações domésticas, tendo em vista que aproximadamente 60% da produção nacional é exportada.

Com relação às indústrias pecuárias, os resultados são apresentados na Tabela 5. Esperam-se baixas no faturamento para couro e calçados e laticínios, e estabilidade na indústria de abate no ano.

Na indústria do abate, o cenário é resultado de preços 5,94% menores em 2018 na comparação com 2017, considerando, em ambos, o período de janeiro a agosto. Já para a produção, espera-se aumento de 6,34% no ano. A redução média observada nos preços reflete baixas para as carnes bovina, de aves e especialmente suína. De modo geral, conforme já destacado em relatórios anteriores, a demanda continua enfraquecida no mercado doméstico, pressionando as cotações das carnes. Além disso, atuaram no mesmo sentido os embargos europeus às carnes de aves e o russo à carne suína.

Para a indústria de produtos lácteos, a perspectiva e de produção estável, e baixa de 2,78% nos preços (na comparação com o período de janeiro a agosto de 2017). Diante disso, a expectativa é de queda de 2,78% no faturamento anual. A queda de preços de derivados de leite ao longo do ano se deve à junção de baixo consumo interno e elevados estoques.

Para a indústria de couro e calçados, projeta-se redução de 10,26% no faturamento anual - resultado das reduções de 5,97% na produção e de 4,62% nos preços - na comparação entre os períodos de janeiro a agosto de 2017 e de 2018. Segundo informações da Abicalçados, a indústria de calçados no Brasil enfrenta uma de suas piores crises, devido principalmente à fraca demanda interna, decorrente do debilitado poder de compra da população.

Tabela 5. Variação anual do volume, preços reais e faturamento das indústrias pecuárias acompanhas

SEGMENTO DE SERVIÇOS: baixa no segmento industrial em agosto reflete em redução do segmento de serviços no mês

Como observado na Tabela 1, o PIB dos agrosserviços apresentou baixa de 0,55% em agosto e queda de -2,13% no acumulado do ano. Esse resultado negativo de 2018 reflete principalmente a retração de 12,73% dos agrosserviços do ramo pecuário, já que o PIB dos agrosserviços do ramo agrícola apresentou alta de 3,07% no mesmo período.

CONCLUSÕES

Após dois meses de alta, o PIB do Agronegócio Brasileiro voltou a recuar em agosto, com baixa de 0,21%. No acumulado de janeiro a agosto, o cenário segue adverso para a renda do setor, com queda de 1,52%. Esse desempenho da renda gerada no agronegócio em 2018 está ligado à redução dos preços dos produtos agropecuários e à elevação de custos de produção.

Os preços agrícolas e pecuários estão em baixos patamares desde o final de 2017. O baixo ritmo da atividade econômica brasileira tem limitado a recuperação da demanda desses bens e, consequentemente, de seus preços. No caso dos pecuários, soma-se a esse contexto, o fechamento abrupto de importantes mercados externos destinos de carnes – bovina, suína e de aves – do Brasil.  Cabe destacar que a recuperação de preços de produtos agrícolas vem sendo observada nos últimos meses – particularmente desde junho - o que, por sua vez, tem refletido positivamente na renda no segmento primário (dentro da porteira). Mesmo assim, a renda gerada no setor, no acumulado do ano, segue 2,76% inferior a do ano passado.

Já quanto aos custos de produção, destacam-se as elevações de preço dos fertilizantes (encarecidos pela desvalorização do Real frente ao dólar), do diesel (com as mudanças na política de preços da Petrobras), do próprio tabelamento de fretes, e também o aumento dos preços do milho, importante insumo das atividades primárias pecuárias.

Em termos de produção, as projeções para 2018 do PIB-volume do agronegócio -  calculado pelo critério de preços constantes e considerando os dados e informações disponíveis até agosto/2018 - seguem apontando crescimento, em todos os segmentos. Conforme se observa na Tabela A3 do Anexo I, o PIB-volume do agronegócio deve crescer 2,53% em 2018, com altas de 4,48% para insumos, de 0,97% para o segmento primário, de 3,06% para a agroindústria e de 2,91% para os agrosserviços.

ANEXO I – Evolução mensal do PIB DO AGRONEGÓCIO

A1) PIB do Agronegócio: Taxas (%) de variação mensal e acumulado do período

A2) PIB do Agronegócio: Participações dos segmentos (em %)

A3) PIB Volume do Agronegócio: Taxa anual (em %)*

  • Nota técnica: O PIB Volume do Agronegócio trata-se do PIB do agronegócio calculado pelo critério de preços constantes. Resulta, portanto, a variação apenas do volume de produção. Este é o indicador de PIB comparável às variações apresentadas pelo IBGE.

A4) PIB DO AGRONEGÓCIO - METODOLOGIA

O Relatório PIB do Agronegócio Brasileiro é uma publicação mensal resultante da parceria entre o Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (CEPEA), da Esalq/USP, e a Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA). O agronegócio é entendido como a soma de quatro segmentos: insumos para a agropecuária, produção agropecuária básica (ou primária), agroindústria (processamento) e agrosserviços – como na Figura que segue. A análise desse conjunto de segmentos é feita para o ramo agrícola (vegetal) e para o pecuário (animal). Ao serem somados, com as devidas ponderações, obtém-se a análise do agronegócio.

Pelo critério metodológico do Cepea/Esalq-USP, o PIB do agronegócio é medido pela ótica do produto, ou seja, pelo Valor Adicionado (VA) total deste setor na economia. Ademais, avalia-se o VA a preços de mercado (consideram-se os impostos indiretos menos subsídios relacionados aos produtos). O PIB do agronegócio brasileiro refere-se, portanto, ao produto gerado de forma sistêmica na produção de insumos para a agropecuária, na produção primária e se estendendo por todas as demais atividades que processam e distribuem o produto ao destino final. A renda, por sua vez, se destina à remuneração dos fatores de produção (terra, capital e trabalho).

Após estimado o valor do PIB do agronegócio no ano-base, que desde janeiro/17 refere-se ao ano de 2010, parte-se para evolução deste valor de modo a se gerar uma série histórica, por meio de um amplo conjunto de indicadores de preços e produção de instituições de pesquisa e governamentais. Seja para a estimação anual do valor do PIB, ou para as reestimativas mensais das previsões anuais, consideram-se informações a respeito da evolução do Valor Bruto da Produção (VBP) e do Consumo Intermediário (CI) dos segmentos do agronegócio. Pela evolução conjunta do VBP e do CI, estima-se o crescimento do valor adicionado pelo setor. 

Com base nos procedimentos mencionados e processos adicionais realizados pelo Cepea, os cálculos do PIB do agronegócio resultam em dois indicadores principais, que retratam o comportamento do setor por diferentes óticas:

•             PIB-renda Agronegócio (equivale ao PIB divulgado anteriormente pelo Cepea): reflete a renda real do setor, sendo consideradas no cálculo variações de volume e de preços reais, sendo estes deflacionados pelo deflator implícito do PIB nacional.

•             PIB-volume Agronegócio: PIB do agronegócio pelo critério de preços constantes. Resulta daí a variação apenas do volume de produção. Este é o indicador de PIB comparável às variações apresentadas pelo IBGE.

Mensalmente, o foco de análise principal é o PIB-renda Agronegócio, que reflete a renda real do setor. Por conveniência textual, o PIB-renda do agronegócio é denominado apenas como PIB do Agronegócio ao longo deste relatório. Destaca-se que as taxas calculadas para cada período consideram igual período do ano anterior como base, exceto para as quantidades referentes às safras agrícolas, para as quais computa-se a previsão de safra para o ano (frente ao ano anterior).

Importante também destacar que cada relatório considera os dados disponíveis – preços observados e estimativas anuais de produção – até o seu fechamento. Em edições futuras, ao serem agregadas informações mais atualizadas, há a possibilidade, portanto, de ocorrer alteração dos resultados, tanto no que se refere ao mês corrente, como também ao que se refere a meses e anos passados. Recomenda-se, portanto, sempre o uso do relatório mais atualizado. Para uma análise mais detalhada dos aspectos metodológicos, bem como dos resultados dos demais indicadores (PIB volume, Consumo Intermediário, etc.) ver http://www.cepea.esalq.usp.br/br/pib-do-agronegocio-brasileiro.aspx