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26 de março de 2018
A mágica da integração
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POR CNA

Recentemente recebi o desafio de integrar e prospectar novas oportunidades para as entidades que compõe o Sistema Famato/SENAR-MT/Imea e Sindicatos Rurais. Coincidentemente, na primeira semana após este anúncio, fiz uma viagem a trabalho à ESALQ-USP, instituição que estudei. A visita aconteceu no momento em que começava a primeira semana de aula do ano, conhecida pelos alunos como a "Semana de Integração".

A ESALQ é uma instituição exemplar que se destaca tanto no ensino, como na pesquisa. De tal maneira que no último ranking da U.S. News and World Report foi considerada a 5ª melhor universidade de ciências agrárias do mundo. Mas para mim, o principal ativo, não são seus professores e estrutura das aulas e pesquisas, mas sua cultura relacional, pois é isso que mantém a chama acesa.

A relação de confraria entre as pessoas que estão ou passaram por esta comunidade é única. Essa confraria fica evidente pelas confraternizações, como encontros anuais de ex-alunos, ex-moradores de repúblicas e até de grupo de ex-alunos residentes em outros estados – como no caso de Mato Grosso, onde existe a Associação dos Esalqueanos de Mato Grosso (AEMAT) que promove o maior encontro regional do Brasil. É impressionante observar nestes encontros como pessoas de diferentes idades que não se conhecem conversam como se fossem velhos amigos.

O começo desta formação cultural acontece nesta semana de integração. Por uma coincidência do destino acabei me tornando 2º secretário da Comissão de Integração (CI), da ESALQ de 2002 participando da realização de atividades com o objetivo de integrar os ingressos daquele ano. Falo em coincidência porque um veterano (que chamamos de doutor) engraçadinho lançou meu nome no pleito sem o meu consentimento.

Foi então que comecei a perceber toda a estrutura e trabalho por traz da formação dessa cultura. Além da CI, a ESALQ tem várias outras agremiações estudantis que lapidam este espírito como o conselho de repúblicas, a associação dos ex-alunos (ADEALQ), as repúblicas estudantis e os grupos de estágios – que já costumam ser geridos pelos próprios alunos.

Os benefícios dessa cultura acabam, obviamente, transcendendo os momentos de confraternização promovendo oportunidades de negócios, apoio para aqueles que estão se estabelecendo em novas regiões e até um eficaz processo troca de conhecimentos entre quem produz e quem pesquisa que, certamente, ajuda a instituição a manter a relevância do que ali é pesquisado.

Por conta desta experiência, acredito que a integração pode trazer benefícios para qualquer negócio, pois ao integrar pressupomos que existe não apenas a troca de informações estratégicas, como também a soma de forças permitindo que cada um contribua com o que tem de melhor, evitando ineficiências e desperdícios.

É claro que integrar não é fácil, pois exige que as pessoas, além de um forte comprometimento com a instituição, uma série de outras competências, como o desenvolvimento uma visão sistêmica, para enxergar as oportunidades de crescimento ou melhoria, uma boa comunicação, para garantir que cada envolvido esteja ciente do seu papel, e, obviamente, o esforço pelo trabalho em equipe.

Outra competência que soma muito nesta hora é o atendimento de qualidade, pois no final, a integração passa a ser parte da cultura institucional quando as pessoas atuam como voluntárias dentro da instituição, buscando enxergar o problema do próximo e tentar resolve-lo, sem necessariamente ter nenhum benefício direto na sua área de atuação.

Para vencer as dificuldades de um projeto de integração não existe nada melhor que buscar inspiração dentro da própria casa e, felizmente, o sistema Famato tem bons casos.

Certamente o caso mais evidente dos últimos tempos do nosso Sistema é o programa AgriHub, onde usamos as forças do Imea, para entender os problemas dos produtores e buscar as soluções tecnológicas prontas no mercado, do Senar-MT, para motivar e capacitar empreendedores a desenvolver soluções para os problemas, e finalmente da Famato e Sindicatos Rurais, para comunicar e mobilizar os produtores em prol deste programa.

Essa experiência também me ajudou a perceber que os envolvidos têm que ter visões críticas sobre o papel dos outros, porém, a consolidação da integração depende, necessariamente, do respeito e reconhecimento do papel de cada pessoa e instituição. Quando isto acontece a integração começa naturalmente.

Sei que o caminho é longo, mas se trabalhar com cuidado e olhar os detalhes é possível ver a luz no fim do túnel. Hoje, como um dos líderes do projeto AgriHub, recebo mensagens e oportunidades do mundo tecnológico de colaboradores de todo o Sistema Famato. As oportunidades vêm e vão, sozinhos nunca vamos conseguir aproveitar todas, mas, ao ver a mágica da integração acontecendo, tenho a certeza de que este caminho sempre nos levará para um lugar melhor.

Otávio Celidonio é superintendente do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural de Mato Grosso (SENAR-MT)