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Fórum Mundial da Água começa domingo em Brasília

15 de março 2018
Por CNA

Por: Revista Globo Rural Online

Brasil tem importante papel nesses debates, pois detém 12% da água doce do mundo

Sob plena crise hídrica, Brasília vai sediar o 8º Fórum Mundial da Água a partir do próximo domingo (18). Com o tema central "Compartilhando Água", o evento deve reunir cerca de 40 mil participantes, em seis dias de atividades, até o dia 23 de março.

O objetivo é discutir boas práticas e soluções para o uso da água a partir de critérios técnicos, políticos e institucionais, com o compartilhamento de experiências entre diferentes países. O Brasil tem importante papel nesses debates, pois detém 12% da água doce do mundo. Ainda assim, crises hídricas já fazem parte da realidade do Brasil do campo e das cidades.

"Não se produz comida sem água. Nós, transformadores de água em alimento, defendemos o bom uso da água", destaca o coordenador de Sustentabilidade da Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária do Brasil(CNA), Nelson Ananias Filho. "É perfeitamente possível produzir com sustentabilidade", reforça o técnico, ao destacar que esse recado do setor rural será levado ao Fórum.

Ananias lembra que embora a produção de alimentos exija muita água, também é impossível esquecer que as propriedades rurais têm importante papel na preservação dos recursos hídricos. "Se a questão é escassez, o produtor rural tem mais soluções do que problemas", destaca Ananias. Isso significa, por exemplo, a participação das propriedades rurais na recarga do lenço freático e alimentação dos cursos d'água.

O coordenador da CNA lembra que em 2050, o mundo deverá alcançar uma população de nove bilhões de pessoas. "Precisamos responder a esses desafios do mundo, abastecer essa população em crescimento. E estamos prontos para enfrentar esse desafio", diz.

Atualmente, a irrigação responde por 67,2% da água consumida no País, indica a Agência Nacional de Águas (ANA). Mesmo diante dessa grande fatia, a própria agência admite que o campo é eficiente na área hídrica. "O aumento da irrigação resulta, em geral, em aumento do uso da água. Por outro lado, os investimentos neste setor resultam, também, em aumento substancial da produtividade e do valor da produção, diminuindo a pressão pela incorporação de novas áreas para cultivo", ressalta a publicação "Conjuntura dos Recursos Hídricos no Brasil 2017", da ANA e do Ministério do Meio Ambiente. Esse mesmo estudo adverte que a irrigação no Brasil é considerada pequena frente ao potencial estimado, à área agrícola total, à extensão territorial e ao conjunto de fatores físico-climáticos favoráveis, inclusive a boa disponibilidade hídrica.

Ananias lembra que o salto em produtividade da produção rural brasileira dos últimos 40 anos tem relação direta com a incorporação de tecnologias, como as técnicas de irrigação, que exigem forte capacidade de administração por parte do produtor rural. Isso porque a irrigação representa custos para colocar a água no local certo, na hora certa, com gastos em bombeamento e equipamentos modernos para ampliar ao máximo a eficácia da irrigação. Maior investimento em Pesquisa e Desenvolvimento (P&D), diz o coordenador de Sustentabilidade da CNA, é fator essencial para ampliar a eficiência hídrica.

O setor industrial, mesmo que responsável por consumo de apenas 10% da água, também está preocupado com as situações de escassez hídrica e da qualidade da água no Brasil. Esses são problemas que podem inibir a realização de novos investimentos, diz a diretora de Relações Institucionais da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Mônica Messenberg. Ela acredita que as soluções para as questões hídricas são de responsabilidade conjunta de todos os setores da sociedade, ou seja, não cabem apenas ao setor público ou ao setor privado.

"O Fórum será uma ótima oportunidade para contextualizar o problema, discutindo soluções inteligentes", diz Mônica Messenberg. Embora a água deva ser considerada como um insumo estratégico, CNA e CNI concordam que um ponto já previsto pela legislação brasileira é inquestionável: a prioridade para o consumo humano nos momentos de escassez.

A diretora da CNI ressalta que as questões hídricas já são apenas problemas locais e assumiram, atualmente, um foco mundial de importância. Nelson Ananias ressalta, em relação a tal questão, que a atividade agropecuária não disputa e não disputará água com as cidades. Ao contrário, o técnico da CNA reforça que as propriedades rurais podem, sim, ser parte importante para garantir o abastecimento hídrico dos centros urbanos.

O município mineiro de Extrema (às margens da rodovia Fernão Dias, que liga São Paulo a Belo Horizonte) já é exemplo da importância do setor agropecuário para a preservação hídrica. A localidade é destaque no Programa Conservador das Águas, da ANA.

Margens de rios e ribanceiras e outras áreas sensíveis do município receberam mudas de árvores e cercas de proteção. Extrema é um caso pioneiro na aplicação do sistema de Pagamento por Serviços Ambientais (PSA). Produtores rurais recebem compensações pela preservação de mananciais e acabam sendo reconhecidos como "produtores de água". A adesão é voluntária.

A compreensão sobre a importância da água não só para a sobrevivência humana, mas também para o desenvolvimento sustentável, é crescente, destaca o ministro das Relações Exteriores, Aloysio Nunes, em artigo produzido para o 8º Fórum Mundial da Água. No texto, ele lembra que embora o País tenha grandes reservas de água doce, o Brasil já enfrenta crises crônicas e, além disso, detém uma das maiores semiáridas do mundo.

Aloysio Nunes aponta que é preciso trabalhar em diversas frentes: acesso universal e equitativo à água potável e saneamento básico, melhorar a qualidade da água, proteger e restaurar ecossistemas, aumentar a eficiência em todos os setores e implementar a gestão integrada dos recursos hídricos. O co-chair do Fórum, Paulo Salles, por sua vez, destaca que a população mundial está aprendendo que a água não é apenas um fator ambiental, mas que afeta todas as atividades humanas, com implicações sociais, econômicas, culturais, institucionais, políticas e científicas, entre outras.

O Fórum Mundial da Água ocorre a cada três anos, sendo que esta é a primeira vez que será realizado no hemisfério Sul (a última reunião foi na Coreia do Sul). Já foram realizadas duas grandes etapas preparatórias para o evento que começa no domingo. Em junho do ano passado, foi realizada na Capital Federal a reunião de "kick-off", ou seja, a primeira reunião oficial de preparação do Fórum, quando mais de 700 especialistas discutiram as linhas principais para nortear os processos Temático, Regional, Político, Fórum Cidadão e Grupo Focal de Sustentabilidade do evento que começa no próximo domingo. Em abril deste ano foi realizada a segunda reunião de consulta a partes interessadas.

Sob o tema geral "Compartilhando Água", o Fórum trabalhará sob seis temas e respectivos assuntos transversais: Clima (segurança hídrica e mudanças climáticas), pessoas (água, saneamento e saúde), desenvolvimento (água para produção sustentável), urbano (gestão integrada de água e resíduos urbanos), Ecossistema (qualidade da água, subsistência de ecossistemas e biodiversidade) e Financiamento (financiamento para a segurança hídrica).

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