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Escoamento da produção fica mais difícil com aumento da distância para os portos
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13 de março 2017
Por CNA

Por: Estado de Minas - Online

Deficiências pioram com as novas fronteiras agrícolas mais distantes. Despesa com transporte até os terminais portuários mais do que triplicou em 10 anos Os entraves impostos pela infraestrutura deficiente de transporte no Brasil persistem em diferentes regiões produtoras do país, enquanto a marcha da produção agrícola abriu novas fronteiras, mais distantes dos portos.

O custo para retirar da porteira das fazendas e levar a um terminal portuário a safra, que, neste ano, será histórica tanto no Brasil quanto em Minas Gerais -- o estado deverá produzir 13,260 milhões de toneladas, representando aumento de 12,8% frente ao resultado de 2016 -- mais que triplicou nos últimos 10 anos até 2013. A despesa saiu de US$ 28 para US$ 92 por tonelada, acréscimo de 228,5%, segundo estudo encomendado pela Associação Nacional de Exportadores de Cereais (Anec).

Especialista no tema, Luiz Fayet, consultor para infraestrutura e logística da Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), alerta para o fato de que os prejuízos estimados em R$ 350 milhões pelo Ministério da Agricultura com o encalhe de soja na BR-163 nos últimos dias representam uma parte pequena dos efeitos do calvário em que o sistema de escoamento da produção agrícola se transformou. "Cada pedaço do Brasil tem um problema. Estamos jogando dinheiro no ralo da infraestrutura", afirma.

Além da progressão impressionante do custo de transporte das fazendas aos portos, assusta a falta de competitividade do Brasil, frente aos grandes produtores de grãos no mundo. Na média nacional, Luiz Fayet estima que transportar a produção até um terminal portuário chega a custar quatro vezes as despesas estimadas nos Estados Unidos e na Argentina. "Em função da marcha da produção agrícola para as novas fronteiras nos últimos anos, as lavouras ficaram mais longe dos portos e a infraestrutura não acompanhou esse movimento", diz o consultor da CNA que participa da Câmara Temática de Infraestrutura e Logística do Agronegócio (Ctlog), do Ministério da Agricultura.

Parte das vantagens comparativas que os produtores brasileiros acumulam com investimentos feitos em tecnologia, trato da terra e consequente elevação da produtividade se perde da porteira para fora, enfatiza o presidente da Faemg, Roberto Simões. "Perdemos grande parte da produção debaixo de lona, dada a precariedade dos armazéns disponíveis, esperando por transporte", afirma. Essas dificuldades explicam a descrença de Simões na efetividade dos resultados da safra recorde aguardada em 2017.

Na oferta mundial do açúcar, Jeferson de Gaspari, diretor do grupo CMAA/Vale do Tijuco, observa que a diferença que sacrifica a produção brasileira está no chamado Custo Brasil/logístico, salvo a disparidade de preços relacionada à política cambial do país. Se no transporte rodoviário e nas ferrovias faltam investimentos, ele considera ainda maior o desafio da infraestrutura ínfima das hidrovias.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou na quinta-feira previsões de avanço de 21,8% da produção nacional de grãos neste ano, ante os 184 milhões de toneladas da safra 2015/2016. O percentual superou a projeção de aumento de 19,5% feita pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), que trabalha com a oferta de 222,91 milhões de toneladas em 2017. Estrelas do agronegócio, a soja deverá proporcionar 108,4 milhões de toneladas, seguida do milho, com 88,4 milhões de toneladas, ainda com base no Levantamento Sistemático da Produção Agrícola do IBGE.

Em Minas, 90% da safra estimada são também representados pelas lavouras de soja e milho. A Conab atribui o recorde indicado pelas estimativas dos frutos das plantações, já em fase de colheita, à recuperação da produtividade média -- no caso da sojicultura a taxa tem sido estimada em 54 toneladas por hectare -- num ano em que o clima está colaborando para o desenvolvimento das culturas de grãos e à expansão da área plantada.

SEM ECO Diante de um desempenho tão promissor, numa economia que tem poucos braços com os quais contar num sonhado cenário de recuperação do crescimento do país, o presidente da Faemg reclama da falta de eco das reivindicações dos produtores rurais. Bom exemplo disso, ele recorda, são os mais de 10 anos em que se discute o projeto de investimento em uma ferrovia para atender às lavouras do Noroeste de Minas ligando Pirapora a Unaí e a Anápolis (GO), o que possibilitaria ao setor nova saída para o exterior, por meio dos portos do Norte, não ficando limitado à opção usada hoje para as exportações a partir do Espírito Santo.

Na opinião do presidente da Sociedade Nacional de Agricultura (SNA), Antônio Alvarenga, trata-se, inclusive, de uma expectativa de reconhecimento pelo governo do valor do agronegócio, com políticas efetivas de financiamento adequado do setor, medidas para resolver deficiências na infraestrutura e para abertura de mercados no exterior. "A grande produção da agricultura neste ano vai beneficiar os demais setores da economia, movimentando a indústria, o comércio e os serviços, além de garantir bom desempenho da nossa balança comercial."

Estrutura Estanguladas
Em dezembro do ano passado, o ministro da Agricultura, Blairo Maggi, anunciava o fim do programa de construção e modernização de armazéns da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), lançado em 2013 no governo da ex-presidente Dilma Rousseff. À época, o ministro definiu que o papel da companhia deve ser o de acompanhar as safras e a política de preços. O novo plano é ceder armazéns, de um total de 177 no país, que estão ociosos a estados e municípios, para que eles possam propor parcerias à iniciativa privada. Armazéns são considerados por produtores e especialistas no agronegócio outro ponto central de estrangulamento do sistema de distribuição da produção agrícola.

Parece simples avaliar a importância dos estoques do ponto de vista da matemática: quem produz tem de dispor de armazenamento para saber o momento adequado de vender e quem compra também necessita dessas estruturas para perceber o momento ideal de adquirir o produto. No entanto, o tema é complexo tanto para os produtores quanto para os especialistas no agronegócio, como afirma o superintendente de Política e Economia Agrícola da Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento de Minas Gerais, João Ricardo Albanez.

"Armazenagem é algo muito importante num país que é referência na produção de alimentos. Requer capital e uma avaliação ampla pelo produtor se o custo financeiro compensa e se o produto terá valorização", diz. Insuficiente para atender os produtores, a regulação de estoques é também essencial do ponto de vista do controle da oferta e dos preços, além da segurança alimentar da população, acrescenta Ricardo Albanez.

Os agricultores de Unaí, no Noroeste de Minas, contam com menos de 70% das necessidades de armazenamento de soja e milho, segundo José Carlos Ferigolo, diretor de Agricultura do sindicato local de produtores rurais. "O ideal seria aumentar essa capacidade, mas num período em que os produtores enfrentam limitações à produção por conta do clima -- a região passa pelo terceiro período de baixo volume de chuvas -- seria difícil investir", afirma.

Outro problema é o custo alto do financiamento para este fim, destaca Ferigolo. "Já tivermos acesso a crédito com custo financeiro de 3% ao ano e hoje não se cobra menos de 8% (anuais). Qualquer coisa acima de 3% ao ano é caro para o setor agrícola", afirma o produtor. A produção do Noroeste mineiro sofre pressão inclusive pelo fato de que o escoamento de soja tem de ser feito durante a colheita para que não haja competição com o despacho do milho.

Independentemente da região do país que sofre com as deficiências da infraestrutura, para o consultor da CNA Luiz Fayet, os prejuízos observados no escoamento da safra têm origem numa distribuição equivocada de recursos e esforços do poder público. Ele observa que, por falta de transporte adequado para a produção do agronegócio, o Mato Grosso deixa de ganhar quase R$ 4 bilhões por ano, perda 10 vezes maior que a identificada no começo de março em razão do encalhe de soja nos 100 quilômetros não asfaltados da BR-163, elo de ligação da maior zona de produção do grão aos portos do Norte.

A cifra foi estimada com base em estimativas de 2014 feitas pela Associação dos Produtores de Soja e Milho do Estado de Mato Grosso (Aprosoja). "Temos dinheiro para fazer estádios, Olimpíadas, Campeonato Mundial, mas não temos dinheiro para concluir a BR-163. Os prejuízos aos quais assistimos podem ser atribuídos à falta de prioridade das políticas governamentais", afirma Fayet.

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