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31 de agosto de 2016
Nova página na história da cafeicultura brasileira
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POR CNA

A história econômica demonstra que o café foi o grande motor de crescimento do Brasil entre o último quarto do século XIX e o final da década de 1920, tendo se tornado o principal produto de exportação do País. Entre 1925 e 1929, antes do craque da bolsa de Nova Iorque, as remessas de café ao exterior representavam 71% das exportações totais do País e 10% do produto nacional bruto.

A crise de 1929 não teve apenas consequências negativas, pois impulsionou a evolução técnica, com a introdução de variedades de café de menor porte, como o Caturra e mais tarde o Catuaí, que facilitaram os tratos culturais e a colheita. Nas décadas de 50 e 60, a capacidade da atividade de gerar empregos e divisas, atrair investimentos, além de financiar a industrialização do País, fez do café um importante alicerce do desenvolvimento nacional.

A industrialização viabilizou a integração da agricultura ao restante da economia, iniciando uma nova dinâmica de modernização. Entre 1950 e 1960, emergiram os complexos agroindustriais, com destaque para o café solúvel em São Paulo, iniciativa que selou a integração entre a agricultura e a indústria, que se uniram para formar a cadeia do agronegócio.

A FAESP teve papel fundamental na implantação da indústria de café solúvel, ao auxiliar na liberação de estoques do IBC – Instituto Brasileiro do Café para obtenção de recursos destinados aos projetos de beneficiamento, uma vez que integrávamos a sua junta administrativa. Hoje, a indústria de café solúvel está consolidada, perfazendo 9% das exportações totais de café.

A cafeicultura continua relevante e o Brasil é o maior produtor e exportador mundial de café, com vendas externas de US$ 6,2 Bilhões em 2015. Essa projeção, no entanto, sempre se impôs mais pelo volume comercializado do que pela qualidade, apesar de o Brasil produzir cafés de excelente padrão.

Mais recentemente, a cafeicultura vem introduzindo inovações nas áreas de produção, beneficiamento e comercialização que estão ressaltando a qualidade do café nacional.

Estão surgindo novas oportunidades de negócio para o País, por intermédio de programas de certificação, que valorizam a qualidade do produto e demais atributos associados ao processo produtivo, enaltecendo a imagem do café nacional em consumidores exigentes, dispostos a pagar por um produto diferenciado, os chamados cafés especiais (gourmets, orgânicos e certificados), que associam a qualidade da bebida às boas técnicas de produção, à identidade geográfica e à responsabilidade social e ambiental. 

Esse segmento de exportação – cujo potencial de crescimento interno é elevado, especialmente para os cafés oferecidos em mono doses (sachês e cápsulas) – teve faturamento de R$1,4 Bilhão em 2015 e pode atingir R$ 3 bilhões em 2019. Mas essa perspectiva se projeta para cafés comercializados em outras formas e embalagens, tanto para consumo doméstico quanto para apreciação em cafeterias e restaurantes.

A participação brasileira nesse nicho de cafés especiais depende de fomento, parcerias e incentivos, públicos e privados. De um lado, é necessária uma política efetiva de garantia de renda aos produtores e, de outro, um esforço coordenado de valorização do produto, respaldado em ações de capacitação, programas de classificação e certificação de qualidade e origem, associados a campanhas de promoção do café brasileiro.

É necessário investir mais em qualidade e programas de sustentabilidade, apoiando-se na difusão de tecnologia. O cafeicultor precisa elevar a produtividade, reduzir o custo e aprimorar a qualidade do produto para obter maior margem de comercialização e sustentar o crescimento. Em contrapartida, o Governo deve estabelecer políticas consistentes, a fim de garantir os recursos e meios necessários para o produtor alcançar esse novo estágio de desenvolvimento.

O cenário é promissor, desde que todos os agentes da cadeia trabalhem de forma coordenada em prol de uma política de incentivo à cafeicultura. Desse modo, o café continuará escrevendo sua grandiosa história no desenvolvimento nacional.

*Fábio de Salles Meirelles é Presidente do Sistema FAESP/SENAR-SP

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